As bandas dos anos 90 passadas debaixo do radar Resumo Os anos 90 em Portugal deram flor a um número de bandas interessantes que b...

TERRITÓRIOS SÓNICOS LUSOS

As bandas dos anos 90 passadas debaixo do radar


Resumo
Os anos 90 em Portugal deram flor a um número de bandas interessantes que buscando algumas influências ao estrangeiro coloriram o universo musical português com EP's, discos e singles. Muitas das bandas tinham letras em inglês e era nessa língua que cantavam mas tornaram-se ainda assim imprescindíveis para o panorama da música portuguesa.

Palavras-chave: anos 90, indie, Portugal

1 - Introdução aos The melancholic Youth of Jesus
Banda formada em Vila Nova de Gaia em 1990 editaram um disco de originais intitulado “One life ain’t enough” e 4 ep’s, um deles muito interessante “Lowveld” de 1994. As letras são em inglês e as vocalizações um pouco reminiscentes de Jesus and the Mary chain apesar de possuírem o seu cunho próprio. É um indie rock maduro e propenso a algumas passagens oníricas de guitarras, estas que tanto podem ser mais agressivas como um pouco mais mansas sem nunca perder o sentido de melodia.



2 - Metal sob as brumas de Sintra
Move under Disorder (M.U.D) foi uma banda formada no ano de 1996 em Sintra. Editaram um ep em 1998 intitulado “Beyond the dust”  que contém 4 temas de metal puro, directo e recheado de solos frenéticos e um duo interessante de vocalizações. Há passagens bonitas de guitarra clássica que complementam na perfeição o ritmo e espírito metal das composições. Riffs cativantes, bateria atinada e uma boa produção para fazer headbang pela noite dentro.


3 - Indie made in Lisbon
Pinhead Society editou um álbum de originais em 1998 “Kings of our size” e dois eps “Have you Slept with your TV set? (You’re looking better)” e “Stress, blah, blah, blah…and all that mess”. É um indie rock original e extremamente melódico que se destaca pela qualidade de todos os seus temas estarem ao mesmo nível, esse bastante elevado. Destaque para a belíssima “the booze” e a hipnotizante “car crash experience (a fiction)”.


4 - Jam on the bread
Zen formou-se em 1996 no Porto e editaram dois discos: “Theprivilege of making the wrong choice” em 1998 e “Rules, jewels, fools” em 2004. O som do disco de estreia é irreverente, imprevisível e extremamente criativo. Passamos pelo indie rock e algum funk, alternando entre passagens mais calmas e dançáveis para um atmosfera mais alucinante e derivativa. Marcam o panorama como uma das bandas mais versáteis e fora-da-caixa da época.


5 - Virtuosismo em potência máxima
Disaffected formou-se em 1991 em Lisboa (Oeiras) e assumiu com competência o seu cariz de death metal técnico com passagens atmosféricas e solos virtuosos. Editou 3 álbuns, “Vast” em 1995, “Rebirth” em 2012 e “The thrinity threshold” em 2017. O nível de tecnicismo é elevado assim como a noção melódica que permeia os 12 temas do disco de estreia “Vast”. Ideal para quem pretende um metal mais cerebral e que dá para fazer headbang na mesma.


6 - Experimental campestre
Megafone é um projecto de João Aguardela que se estendeu em 4 álbuns (de 1997 a 2005) e que mistura samples de música tradicional portuguesa com batidas arrojadas de electrónica, revitalizando o passado de uma ruralidade muito portuguesa e transportando-a para a modernidade do presente. Extremamente inovadores e vanguardistas, os discos de Megafone são uma experiência sónica única que dão voz à música tradicional portuguesa num contexto moderno em que a electrónica começou e continua a dar cartas. Os álbuns estão disponíveis para download no site de homenagem a João Aguardela em aguardela.com.


7 - Cyberpunk em Portugal
Golpe de Estado foi uma banda formada em Lisboa que editou em 1993 o álbum homónimo recheado de temas futuristas e com um fusão cativante de samples e guitarradas hipnóticas. Os singles que mereceram mais atenção foram talvez “Um caso que está a dar que falar” e “Cyberpunk generation” com a participação de Adolfo Luxúria Canibal. Trata-se de um disco singular e bastante à frente para a altura em que foi editado. Provavelmente, um dos discos que o Terminator ouviria. Punk de máquinas.


8 - Pink grunge
Monster Piece editou em 1996 o álbum “Pieces” cujos temas estão imersos numa contagiante mistura de indie com algum grunge de traços mais leves e coloridos, ajudados pela voz feminina de registo limpo e de certa forma inocente mas que não hesita em tornar-se mais angsty assim que a composição musical o permite.

9 - Bouncy Guitars
Primitive Reason formou-se em 1996 em Lisboa com uma formação internacional, contando com alguns músicos americanos. Editaram em 1996 o seu primeiro disco “Alternative prison” que recebeu a merecida atenção e que alcançou uma sonoridade própria e eclética que esteve em rotação permanente nos discmans de adolescentes e jovens adultos. As letras são interessantes e únicas imiscuindo-se nas melodias que misturam vários estilos musicais firmando um cunho próprio. A música (single) que ficou mais conhecida foi talvez “Seven fingered friend” apesar do disco ser composto na totalidade por 13 temas que merecem ser ouvidos vezes sem conta.


10 – Experimentalismo eléctrico
The Astonishing Urbana Fall formou-se em 1996 em Barcelos e editou dois ep’s na década de 90 : “Acetaminophen” em 1996 e “Iconolator” em 1998.  O som é francamente experimental com um certo cariz hipnótico e cheio de diversidade sendo que nos faz querer ouvir certos temas com headphones e de preferência num horário nocturno e outros na aparelhagem no máximo de volume possível como é o caso do tema “None” que contém um frenético e delirante trabalho de saxofone.


11 – Indie com chili
Another C.o.w formou-se em Lisboa em 1994 e em 1997 lançou o EP “Autre boite de vers” constituído por seis temas de indie bem humorado e com vocalizações por vezes imprevisíveis. Transparece o sentimento que as composições foram feitas e gravadas por músicos que se estavam a divertir bastante ao mesmo tempo que tocavam boa música. Indie rock bem tocado, despretensioso e acima de tudo fun.


12 - “Ask your PC”
REF formou-se em Lisboa e editou dois EP’s “Laurie love” e “REF III”. O som pode ser caracterizado como um indie rock com leves laivos grunge, mistura uma certa agressividade com uma atmosfera mais mellow, o que cria uma identidade própria tanto através da letra como da vocalização. As letras são um dos pontos fortes das composições. Um bom rock agri-doce.

13 - Groove e Death
Genocide formou-se em 1990 no Porto e editou dois discos, o primeiro e homónimo em 1994 e “Breaking point” em 1999. O primeiro disco apresenta nove temas de puro death metal com algumas passagens mais groove que fazem lembrar um pouco a fase “Harmony Corruption” de Napalm Death. A produção do disco é acima da média e os instrumentais extremamente competentes.  Um bom primeiro disco para ouvir nos intervalos de ler Cioran ou então para um daqueles dias mais chuvosos em que apetece mandar tudo à mer…mas ao invés preferimos ouvir um bom disco de death-metal.


14 – Trailerpark indie
Lulu Blind formou-se em Lisboa no ano de 1991. Editaram três LP’S e o segundo intitulado “Blast!” que foi lançado em 1996 presenteia-nos com 14 temas que usam e abusam das guitarras que resvalam em riffs catchy como é o caso do tema “Elvis”. Há temas que surpreendem pela passagem limpa de guitarras acústica que se imiscuem num fundo de guitarras com distorção. É um álbum forte e muito diversificado que é capaz de oferecer vários moods e atmosferas.

Conclusão
Muitas mais bandas marcaram o espectro musical português nos anos 90, algumas continuando o seu percurso, como os Ornatos Violeta que formados nos anos 90 continuaram a tocar e a mudar o universo da música independente. Outras bandas que editaram apenas um LP ou alguns ep’s também contribuíram para o enriquecimento da história da música Portuguesa e deixaram as suas pegadas no areal deste país à beira-mar plantado.

TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE