The Residents são uma das bandas mais influentes, produtivas e carismáticas que emergiram nos EUA e ao longo de quatro décadas de carr...

Breaking the Fourth Wall: «Theory of Obscurity: A FILM ABOUT THE RESIDENTS» (2015)


The Residents são uma das bandas mais influentes, produtivas e carismáticas que emergiram nos EUA e ao longo de quatro décadas de carreira conseguiram consolidar uma sólida base de fãs e um estatuto de culto que os coloca no seu próprio patamar. Quem já ouviu The Residents sabe que não há qualquer outra banda que soe como eles e que foi a sua audácia de misturar vários géneros musicais que lhes permitiu construir a sua sonoridade distinta. 


The Residents permanecem até hoje um perfeito enigma, não se sabendo quem são os músicos que se escondem por trás dos gigantescos globos oculares que usam na cabeça e que os caracterizaram como uma das bandas mais originais e capazes de criar o seu próprio universo, tanto visual quando musical.
A aparente criatividade inesgotável da banda fez com que editassem mais de sessenta discos ao longo dos anos, telediscos que pela sua qualidade artística e experimentalismo fossem exibidos em vários museus de arte contemporânea e vários projectos multimédia.


Uma das mais interessantes incursões dos The Residents foi no campo dos jogos de computador, editando em 1995 – BAD DAY ON THE MIDWAY que chegou a ganhar vários prémios. O jogo centra-se numa série de puzzles que o jogador tem de resolver e o estilo de jogo é do género de aventura de point and click. Para este jogo fizeram também uma banda sonora intitulada HAVE A BAD DAY em 1996. A banda sonora adequa-se na perfeição à atmosfera do jogo, sendo bastante onírica,  mas extremamente negra, como se estivéssemos de alguma forma presos num pesadelo que apesar de ser pesado é ao mesmo tempo intrigante e fascinante. Talvez seja por essa razão que o jogo foi planeado para ser uma série de televisão e o nome escolhido para a realizar seria nem mais que o mestre do subconsciente, o realizador americano David Lynch. Infelizmente, o projecto acabou por não seguir em frente mas é mais um trabalho dos The Residents que vale a pena descobrir.

Neste documentário realizado por Don Hardy Jr não há qualquer revelação da verdadeira identidade dos músicos que fazem parte deste colectivo one of a kind, mas a associação que os representa, The Cryptic Corporation revela alguns dados importantes e permite o acesso aos vastos arquivos da banda.

São também mostrados excertos de concertos performance da banda realizados nos EUA e Europa no âmbito da comemoração dos seus quarenta anos de carreira. Há também entrevistas a alguns músicos que são fãs dos The Residents e que admitem a sua influência nos seus próprios trabalhos, como é o caso de bandas como Primus, Devo e Ween e também o criador dos The Simpsons, Matt Groening que sempre se assumiu como fã da banda.


O documentário foca-se bastante no tema visual e na imagem icónica que a banda conseguiu preservar ao longo dos anos, sendo também interessante saber como foram construídos e desenhados os globos oculares gigantescos que a banda usa.
Uma das ideias subjacentes no documentário e que firmou a autenticidade deste grupo é que a prevalência de ideias originais e fora-da-caixa permitiu-lhes construir um universo próprio que se afasta completamente das convenções de fama e egomania que impera em muitas bandas. A sua dádiva aos fãs é a criação de um habitat bizarro, imprevisível, mas estranhamente confortável que cativou e continua a cativar os melómanos mais curiosos e ávidos por criações artísticas, sejam elas musicais ou visuais que desafiam as normas da sociedade dita convencional. 


Os The Residents lembram-nos que a arte não necessita de recorrer a fórmulas do passado, mas que é na reinvenção ou completa destruição dessas fórmulas que se alcança a verdadeira liberdade artística.

É um documentário essencial para apreciar o universo dos The Residents e que é fantástico assistir antes ou depois de ICKY FLIX, um dvd editado em 2001 que reúne telediscos fantásticos e excertos de concertos. São trabalhos que podem converter alguém a tornar-se também ele/a um/a residente.





TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Frames tirados dos filmes