8 - Adventure Time  Adventure Time é uma série de animação bastante popular do canal Cartoon Network. Foi criada por Pendleton W...

Música em cartoons: As bandas-sonoras que ajudaram a moldar e reforçar o humor na animação (parte 2)

8 - Adventure Time 


Adventure Time é uma série de animação bastante popular do canal Cartoon Network. Foi criada por Pendleton Ward e teve a sua estreia em 2010. A narrativa de cada episódio centra-se nas aventuras de dois melhores amigos, Finn, um rapaz algo inocente, mas bastante corajoso e o seu melhor amigo, Jake, um divertido cão amarelo com um excelente sentido de humor e um poder mágico peculiar que lhe permite mudar de forma e de tamanho sempre que assim pretende.

Jake e Finn vivem num mundo pós-apocalíptico, mas repleto de personagens peculiares e mágicas. Esse mundo chama-se Land of Ooo. Em cada aventura, os dois heróis deparam-se com vilões ou personagens que precisam de ser salvas. Um dos vilões mais populares e que aparece em vários episódios, é o Ice King. Esta personagem é um mágico ancião que tem a capacidade de manipular gelo e neve à sua vontade. Apesar de fazer a vida negra aos dois heróis em alguns episódios, pela sua consistente táctica de raptar donzelas para as obrigar a casar com ele, Ice King acaba por tecer um retrato bastante humano de quem sofre de isolamento social e solidão.
Há outras personagens secundárias bastante interessantes, tais como a Lumpy Space Princess (muitas vezes referida pela abreviatura LSP), a sua aparência é caricata e icónica, sendo uma nuvem cor-de-rosa com olhos, boca, braços e uma estrela amarela no meio da testa. A sua voz é também cómica, consistindo num tom bastante nasalado. A sua personalidade é consistente com o estereótipo da adolescente aparentemente apática, difícil de impressionar e que passa a maior parte do tempo a escrever no telemóvel. 


Adventure Time conta também com a presença de Princess Bubblegum e Marceline the Vampire Queen

Existe uma grande riqueza na psicologia das personagens secundárias e uma grande criatividade e imprevisibilidade nas narrativas dos episódios. O tema original da série foi composta e interpretada por Pendleton Ward com o uso de Ukulele. 

Foi em 2016 que lançaram The Land Of Ooo, a banda-sonora composta por 38 temas que figuram nos episódios de várias temporadas. 

O sucesso desta série de animação originou a criação de jogos de computador e de uma série de comic-books deixadas a cargo do artista Ryan North

O ambiente mágico e colorido de Adventure Time atrai tanto crianças como adultos e o psicadelismo, humor e surrealismo oferecem também uma alternativa de escapismo saudável para alguns adultos. 

9 - The Powerpuff Girls


The Powerpuff Girls foi uma série bastante popular nos finais da década de 90 e bastante inovadora para a época. A série foi criada por Craig McCraken para o canal Cartoon Network e teve a duração de seis temporadas. A série mistura humor, acção e aventura em doses generosas. A narrativa centra-se num trio de irmãs e super-heroínas que têm superpoderes. Buttercup, Bubbles e Blossom possuem psicologias bastante distintas e formam uma equipa invencível na luta contra o crime. 


Os antagonistas da série contribuem para o humor dos episódios, dois dos mais notáveis, são Him e Mojo Mojo. Him é uma criatura andrógina que possui elementos físicos bastante distintos, tais como olhos cor verde-lima, garras de lagosta, um nariz super pontiagudo e uma barba algo metrossexual. A sua voz é um pouco efeminada com traços grotescos acentuados por algum eco. Mojo Mojo é um macaco antropomorfizado que usa uma capa, tem pêlo preto e uma cara verde. É um dos super-vilões de serviço da série.

A popularidade da série reflectiu-se também na edição de três discos de banda-sonora editados entre 2000 e 2003 pela Rhino Entertainment. 

O primeiro disco foi editado em 2000, The Powerpuff Girls: Heroes & Villains, Music inspired by The Powerpuff Girls. É composto por quatorze temas de várias bandas, tais como Devo, Shonen Knife, The Apples in Stereo e Bis, entre outras. Há também a participação de Frank Black (Pixies) num dos temas. É uma compilação de músicas divertidas e que acentuam o espírito alternativo da série animada.

O segundo disco foi editado no ano seguinte. The city of Soundsville: Music from The Powerpuff Girls reúne um conjunto de dezassete temas de uma electrónica frenética e catchy com trechos de som da série e vários efeitos sonoros. O resultado da audição do disco é análogo ao que acontece depois de comer uma tigela gigante de Lucky Charms com dois pacotes de açúcar. “Sugar, Spice and everything Nice”.

O terceiro e último disco foi editado em 2003. The Powerpuff Girls: Power Pop conta outra vez com as participações de Shonen Knife e Bis. Um dos pontos altos é sem dúvida o tema que encerra o disco Powerpunk End Theme da banda Bis

Esta série de animação ajudou a abrir caminho no mundo da animação para mais séries e filmes com personagens femininas fortes e emancipadas. 

10 - Aeon Flux 


Aeon Flux foi uma série de animação criada por Peter Chung e que teve a sua estreia na MTV’S Liquid Television, um programa dedicado a trabalhos de animação que teve três temporadas e que durou de 1991 a 1995. Aeon Flux teve a duração de três temporadas e no total foram realizados dezasseis episódios.

A narrativa passa-se num mundo que foi arrasado por um desastre natural de proporções épicas que aniquilou a maior parte da população. O nome da série é também o nome da personagem principal. Aeon Flux é uma agente secreta especialista em assassinatos e dotada de grandes capacidades acrobáticas.
Os episódios retratam as missões de Aeon Flux enquanto assassina profissional. Há alguma violência e bastante acção mas os trunfos da série são os planos e enquadramentos originais, o uso de simbolismo, cenas de acção muito bem coreografadas e momentos absolutamente surreais. 

A banda-sonora que acompanha a série reflecte bem o aspecto único, enigmático e críptico das imagens. O compositor da banda-sonora foi da responsabilidade do músico Drew Neumann. A música original da série acabou por ser editada em 1997 com o título Eye Spy- Ears only: confidential, mas devido a restrições de licenciamento por parte da MTV, o disco possui as iniciais A.F em referência a Aeon Flux

O disco compõe-se de temas de várias durações e alguns deles chegando a ter mais de 10 minutos. É uma eléctronica algo feroz, obscura e com algumas influências asiáticas. Assim como a série de animação, é uma viagem auditiva de proporções épicas. 

Aeon Flux enquanto série de animação teve, infelizmente, uma curta existência mas a sua influência voltou a sentir-se em 2005 quando foi realizada uma longa-metragem completamente inspirada na série. Aeon Flux foi realizado por Karyn Kusama e interpretado por Charlize Theron. O filme não teve uma boa recepção junto da crítica e afundou na bilheteira talvez por não possuir a magia e universo críptico da série animada. 

11 - Musical Miniatures 


Musical Miniatures foi uma série de curtas de animação produzidas pela Walter Lantz Productions. É composta por seis curtas e o seu atractivo central e comum é a banda sonora que consiste exclusivamente em peças de música clássica que acompanham a narrativa e sincronizam na perfeição os movimentos das personagens animadas.

Estas curtas foram produzidas durante dois anos, de 1946 a 1948 e figuram cartoons famosos tais como Andy Panda, Wally Walrus e Woody Woodpecker.
A realização das curtas esteve a cargo de Dick Lundy e a direcção musical foi feita por Darrell Calker

Todas as animações foram cuidadosamente revistas para que cada cena correspondesse ao ritmo e momentum da peça musical. 

Os episódios têm uma duração bastante curta (alternando entre os seis e sete minutos) e apesar da sincronia entre movimentos e acção das personagens com a peça de música clássica, há espaço para gags e efeitos sonoros típicos do mundo dos desenhos animados. 

As peças clássicas são da autoria de compositores clássicos, tais como, Frederic Chopin, Rossini e Franz Von Suppe.

Apesar de apenas ser composta por seis curtas, esta mini-série recebeu bastantes prémios e nomeações da academia na categoria de melhor curta de animação. 

12 - Tarzoon: Shame of the Jungle e The Missing Link


Jean-Paul “Picha” Walravens é um cartoonista e realizador de filmes de animação de origem belga. Foi em 1975 que co-realizou juntamente com Boris Szulzinger uma longa-metragem de animação que alcançou bastante polémica aquando do seu lançamento. A longa em questão intitulada Tarzoon, la honte de la jungle (Tarzoon, the shame of the jungle) recebeu X-rating aquando da sua distribuição nos EUA. Um piloto do filme com a duração de 15 minutos foi mostrado no festival de Cannes em 1974 e o filme foi concluído no ano seguinte.

O filme assumiu-se como uma paródia da famosa personagem Tarzan criada por Edgar Rice Burroughs. E em 1987 foi feita uma dobragem do filme em inglês que contou com a participação de Johnny Weissmuller Jr. (actor e filho do nadador olímpico Johnny Weissmuller), John Belushi e Bill Murray, entre outros.
A distribuição do filme esteve envolvida em vários processos legais, incluindo os protestos e processos legais da companhia representante de Edgar Rice Burroughs que exigiu que o nome Tarzoon fosse retirado do título do filme. As polémicas continuaram a assombrar a distribuição do filme, sendo que o mesmo foi banido na Nova Zelândia em 1980 por ser considerado de profundo mau gosto. 

Os cartazes do filme anunciavam que era um filme exclusivamente para adultos e cita o humor de Fritz The Cat como uma influência. 

No entanto, apesar da animação ser bastante bem conseguida e a banda-sonora ser eficiente, o estilo de humor acaba por se tornar um pouco entediante com a quantidade de referências sexuais, violência e a abundância de criaturas de formas fálicas. 

O departamento musical esteve a cargo de Heloise Cohen e Marc Moulin. Marc Moulin foi um músico belga de jazz que fez parte da banda vanguardista de rock, Aksak Maboul em 1977. A score do filme serve para enfatizar a acção das personagens animadas assim como para animar sequências mais surreais (tal como uma cena de dança de criaturas fálicas com chapéus de soldado e uma viagem de tapete voador). 

O realizador belga realizou mais um filme de animação em 1980, Le chaînon Manquant (The Missing Link) que também marcou presença no Festival de Cannes. 

A narrativa centra-se na pré-história e na odisseia de um homem das cavernas cujo nome é O. As suas aventuras em busca de comida e outras necessidades básicas faz com que viaje bastante e introduza a invenção do fogo a um grupo de bárbaros de origem norueguesa. O filme volta a atacar com um humor dirigido a uma audiência adulta com inúmeras referências sexuais. 

A banda-sonora acompanha os estados de espírito da narrativa com o uso de temas rock para efeitos mais dramáticos e peças mais divertidas para acentuar os efeitos cómicos. 

Foi editada uma banda-sonora oficial em 1980 com os temas interpretados por Leo Sayer, um cantautor britânico. 

Após o fiasco nas bilheteiras das longas-metragens, Picha dedicou-se a trabalhos em televisão, mas marcou o seu lugar no mundo da animação de adultos para adultos. 

13 - Down and Dirty Duck


Down and Dirty Duck ou simplesmente Dirty Duck foi um filme de animação realizado por Charles Swenson. O filme estreou em 1974 com X-rating. Assim como a maior parte desse género de filmes, Down and Dirty Duck foi alvo de críticas de polos opostos, sendo um filme que ou se ama ou se odeia. O filme não teve muito sucesso nas bilheteiras, mas ao longo dos anos transformou-se num filme de culto.

O filme centra-se na amizade improvável entre um agente de seguros que leva uma vida bastante cinzenta e um pato antropomorfizado de carácter gingão.
A música que se ouve nas cenas iniciais foi composta e interpretada pelo duo de comediantes musicais Flo (Mark Volman) & Eddie (Howard Kaylan). Este duo de músicos foram membros fundadores da banda The Turtles e fizeram parte da banda The Mothers of Invention

A letra da música anuncia candidamente, mas de forma hilariante, que o espectador vai ver um filme que é bastante “cheap”. Depois somos introduzidos a uma das personagens principais e às suas fantasias românticas ao som de um tema de rock anos 70 com algumas influências psicadélicas. Essas fantasias românticas cedo se transformam em subtextos sexuais através do simbolismo de, por exemplo, enfiar a chave do carro na ignição. 

A existência monótona da personagem principal muda por completo ao conhecer Duck que o faz embarcar numa aventura em que conhecem personagens peculiares e se envolvem em situações bastante bizarras. O filme tem também um plot-twist que para alguns espectadores pode ser hilariante ou para outros simplesmente atroz e de mau-gosto. 

A banda-sonora foca-se bastante em efeitos sonoros para aumentar a comicidade das situações, a existência de bastante diálogos com conteúdo que servem para enfatizar a componente bizarra da narrativa e momentos musicais acentuados por rock clássico dos anos 70. 

Charles Swenson continuou a trabalhar na área da animação mas em projectos bastante mais populares e menos arriscados como foi o caso da lendária série Teenage Mutant Ninja Turtles e Rugrats

Down and Dirty Duck continua a ser um fenómeno de culto e um filme de animação de referência para uma audiência adulta que gosta do seu humor bem temperado com especiarias de bizarro, surreal e, por vezes, ofensivo. No caso desta receita as quantidades de q.b são bastante maciças.

14 - The Simpsons 


The Simpsons é uma das séries animadas mais populares de sempre. Foi criada por Matt Groening para o canal FOX. O universo de Springfield e a icónica família Simpson faz parte do imaginário de qualquer fã de desenhos animados. A série teve a impressionante duração de 29 temporadas em que acompanhámos o quotidiano e aventuras de Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie. Para além das cinco personagens principais, a série conta com personagens secundárias igualmente icónicas, tais como Krusty The Klown, Moe, Barney, Ned Flanders, Abu, The bumblee man, Comic book guy e Sideshow Mel entre outros. Também há que destacar as personagens mais jovens como Milhouse, Ralph e Nelson.


O sucesso universal da série deu origem a um filme de longa-metragem lançado em 2007. The Simpsons Movie foi realizado por David Silverman e contou com as vozes dos actores que deram vida às personagens da série. 


A score do filme foi deixada a cargo do compositor Hans Zimmer que usou o tema original da série originalmente composto por Danny Elfman (fazendo uma versão orquestral) e compôs uma sólida e coerente score para acompanhar a narrativa do filme. Hans Zimmer foi responsável por várias bandas sonoras de filmes bastante populares e de grande qualidade tais como, The Thin Red Line (Terrence Mallick), The Lion King, Thelma & Louise, entre muitos outros. 

Um dos temas mais conhecidos do filme foi Spider Pig que sublinha a cena em que Homer tem uma viagem psicadélica. 

A série deu também origem à edição de discos de estúdio, bandas-sonoras e singles. 

O primeiro disco foi editado em 1990, The Simpsons sings the Blues que conta com 10 temas que não fazem parte da banda-sonora da série e que são versões de músicas clássicas de blues. Apesar do sucesso da série animada, o disco não alcançou muito sucesso, mas é uma peça de memorabilia interessante para os fãs mais sérios. 

O segundo disco de canções originais foi editado em 1998, The Yellow album é uma paródia aos The Beatles, tanto através do nome do disco como da capa. Assim como no seu predecessor, as músicas são cantadas pelos actores que fazem as vozes das personagens animadas. 

As músicas são uma mescla de pop, funk, soul e hip-hop. As melodias são dançáveis e claramente comerciais. 

Os discos de banda-sonora são consideravelmente mais interessantes visto que contam com peças musicais que fizeram parte de episódios da série. Um deles é Songs in the key of Springfield, editado em 1999 pela Rhino Records. 

No mesmo ano, Rhino Records editou outro disco de banda-sonora da série, Go Simpsonic with the Simpsons composto por 53 temas maioritariamente compostas pelo músico Alf Clausen que foi responsável pela música na maior parte dos episódios da série. 

O último disco dedicado à série foi editado em 2007, The Simpsons: Testity que conta com 41 temas que figuraram nos episódios das temporadas mais recentes da série. Há um tema interpretado pela banda B’52’s e outra pela banda Los Lobos, sendo que as restantes são todas interpretadas pelas vozes das personagens animadas. Há temas mais fracos que outros, mas como há bastantes temas no disco, essa discrepância não é um problema. Um dos melhores temas, “The Very reason that I Live” é cantada pelo vilão torturado Sideshow Bob (brilhantemente vocalizado por Kelsey Grammar). É um disco bem produzido e que é um complemento perfeito para o pós-maratona de The Simpsons ou para quem simplesmente quer matar saudades.

The Simpsons continua a ser uma das séries animadas mais reconhecíveis universalmente e a sua capacidade de gerar produtos, sejam eles brinquedos, jogos de computador, roupa, continua a ser inigualável. 

Conclusão:
A criação musical sempre andou de mão dada com a arte animada desde os seus primórdios. A liberdade que existe no mundo dos cartoons permite toda uma panóplia de acções surreais e bizarras que permitem à música também ela experimentar outras fórmulas. Seja uma abordagem mais clássica, experimentalista, vanguardista ou como mera score para ajudar ao dramatismo da narração, a música presente na animação é o complemento e ingrediente mágico para o universo da arte animada que acompanhou e acompanha a vida de crianças e adultos. 

TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE


Fontes utilizadas:
NET: Wikipedia, Cartoonresearch.com
Livros: Forbidden Animation – Karl F. Cohen; The Encyclopedia of Animated Cartoons – Jeff Lenburg