Numa sala a menos de metade encontram-se os tão aguardados Glassjaw , em terra nunca antes pisada. 26 anos de exílio sem nunca terem a...

Glassjaw envelheceu ao lado da geração que finalmente a ouviu em Portugal


Numa sala a menos de metade encontram-se os tão aguardados Glassjaw, em terra nunca antes pisada. 26 anos de exílio sem nunca terem apresentado em Portugal Everything you need to Know about Silence, Worship and Tribute e Material Control; um longo tempo de seca carregado por uma sede já pouco sentida, pela desesperança que quase anulou um vislumbre do oásis. 

Finalmente aquilo que parecia uma miragem, concretiza-se, Glassjaw em Portugal. Após um hiato de 15 anos sem lançamentos de longa duração, vêm não só para apresentar o mais recente Material Control, mas, também, revisitar os álbuns que tocaram vezes sem conta nas aparelhagens dos "glassjawmaníacos". 


Tip your Bartender (Worship and Tribute) cai qual relâmpago, quase que irrompe as luzes de palco intermitentes em sincronia com os pickings dilacerantes de Justin Beck, técnica que já vinha a aperfeiçoar na sua anterior Sons of Abraham. Guitarradas potentes que, tal como acontece com outros guitarristas, revelam a identidade pelo realce tímbrico. A guitarra de Justin Beck destaca-se a par com guitarristas como Tom Morelo, Fredrik Thordendal, Mikael Akerfeldt, John Frusciante, Matt Bellamy e Jerry Cantrell.

Not throwing stones at you anymore
Your name's in lights and I don't wonder anymore

Canta Palumbo (cuja voz muitas vezes se assemelha à de Chino Moreno) o refrão do primeiro tema de Worship and Tribute, o segundo álbum, cuja temática homenageia as pessoas que o influenciaram musicalmente. Não há dúvidas de que Glassjaw envelheceu ao lado da geração que a ouviu e que finalmente ao lado dela canta. 


Glassjaw é, indubitavelmente, uma banda que muito se construiu com as excelentes produções de estúdio e que cedo rompeu com o hardcore tradicional que até então se fazia. O som ao vivo não faz jus aos álbuns. A tarola de Chad Hasty não soa como nos álbuns e a indefinição sonora prevaleceu durante todo o concerto. Mesmo assim, o saudosismo sentido pelo público não apagou o calor que se viveu da plateia para o palco. O concerto não foi apenas marcado pelas revisitas aos outros álbuns, passaram também pelo trabalho mais recente Material Control com Shira, onde se distingue o baixo tão marcante de Travis Sykes. Neste concerto são revelados uns Glassjaw que ainda não se fartaram dos palcos, mesmo que não os tenham pisado tanto quanto gostariam. We are ok in a misguided sadist way / We are ok / We are ok in a disabled veteran's way / We are ok, ouve-se Convectuoso, enquanto o público levanta as mãos em reciprocidade. Um retorno a Everything You Ever Wanted to Know About Silence com Syberian Kiss, certamente uma das melhores produções realizadas por Ross Robinson. Muitos dos temas do primeiro álbum foram escritos sob influência de uma grande revolta causada por relações tóxicas, e devido ao conteúdo das letras, cujo teor carrega uma carga de animosidade e inquietação, a banda foi acusada de misoginia. Ape dos Mil - um dos temas mais emblemáticos -, foi tocado e cantado por quase todos os que estavam presentes na sala. 






Chegado o fim esperava-se um encore, porque a nostalgia não se alimenta com um concerto de pouca duração. Mesmo que algum do público não arredasse pé à espera que regressassem ao palco, não lhes restou outra escolha senão retornar ao lar. Para quem acompanhou a discografia da banda, ficou a sensação de uma enorme insatisfação. 

A primeira parte do concerto esteve entregue aos portugueses Pledge e Redemptus, duas bandas que merecem exposição internacional. 










Texto: Priscilla Fontoura
Imagem: Rui Mota Pinto
Vídeo: Priscilla Fontoura, Rui Mota Pinto
Edição: Priscilla Fontoura
Concertos: Pledge, Redemptus, Glassjaw
Data: 22 de Junho de 2019
Locais: Hardclub, Porto
Promotora: Amazing Events