Ride nasceu no final da década de 80 em Oxford, Inglaterra, e foi uma das bandas emergentes do movimento shoegaze com uma sonoridade ...

RIDE: A banda inglesa fez-nos viajar fora do espaço-tempo linear


Ride nasceu no final da década de 80 em Oxford, Inglaterra, e foi uma das bandas emergentes do movimento shoegaze com uma sonoridade mais aguerrida e rockeira do que as restantes bandas. Ao longo de 6 discos de estúdio, e uma carreira cheia de digressões, consolidaram uma base sólida de fãs leais. O seu mais recente trabalho editado em 2019 intitulado This is Not a Safe Place foi talvez o espaço onde recriaram a sua fórmula original de guitarras despojadas, ritmadas e com efeitos criativos de pedais, ritmos de bateria imprevisíveis com uma dinâmica muito própria, quase tempestuosa e regular num caos apenas aparente, consolidando um som que tanto se influencia numa dinâmica rock criativa indie, assim como num psicadelismo de altos voos dos anos 60. 


Após anos sem pisar os palcos portugueses, a banda inglesa voltou a Lisboa, no Lisboa ao Vivo (LAV), e foi recebida de braços abertos e no ar pelos seus fãs mais devotos que, de idades bastante variadas, fizeram uma audiência ecléctica, sempre atenta e magnetizada pelo quarteto de músicos durante cerca de 1h30 de concerto. 
Ride iniciou-nos numa viagem que começou pelo presente, tocando dois dos temas do disco mais recente, como Jump Jet e Future Love, acarinhados por uma audiência entusiasmada e que há muitos anos ansiava por um concerto ao vivo. Depois dos temas mais recentes, regressámos à década de 90 com Leave them all Behind, uma canção que evocou na audiência uma nostalgia familiar. 

Esta quebra de tempo cronológico causada pela harmonia de temas recentes com outros tornados icónicos e lendários pela sua idade, mostraram-se ainda fortes e nada datados, revelando que Ride sempre conseguiu manter o seu som adaptável aos tempos, sem nunca ceder a facilitismos ou a destrinçar-se das suas verdadeiras raízes e natureza. 


O concerto terminou oficialmente com o tema Vapour Trail, tornando ainda mais famoso pela sua inclusão no livro The Perks of Being a Wallflower de Stephen Chbosky (adaptado para as telas de cinema em 2012). Um livro que se tornou um autêntico diário e auto-biografia de todos aqueles que de alguma forma se sentem sempre dentro de uma redoma que os separa do mundo. 

Vapour Trail foi um grande tema, mas não o suficiente para que os fãs se quisessem despedir da banda que voltou em encore para tocar os dois temas finais da noite, In This Room e Seagull


Os Ride despediram-se dos fãs que os aplaudiram de braços bem altos para serem capturados pela máquina fotográfica do baterista que quis imortalizar o momento. 


Foi numa noite de céu limpo, vagamente estrelado, prenunciando uma primavera ou verão com uma lua grande e amarela, que fez lembrar um queijo portentoso, que os Ride, assim como o nome indica, nos fizeram viajar por entre tempo e espaços aparentemente distantes entre si, mas familiarmente e sensitivamente próximos. 

Texto: Cláudia Zafre 
Imagens: Henrique Barroso
Data: 10 de Fevereiro, 2020
Local: Lisboa ao Vivo (LAV)
Concerto: Ride