Everywhere at the end of the time , The Caretaker As memórias podem provocar, pelo menos, dois efeitos; ancorar num passado que se qu...

The Caretaker, a panacéia que convém a toda a demência

Everywhere at the end of the time, The Caretaker

As memórias podem provocar, pelo menos, dois efeitos; ancorar num passado que se quer rejeitar, ou ressuscitar a vontade de recriar momentos nostálgicos, dos quais se sente saudade. Nos seus livros, Oliver Sacks faz referência a vários episódios sobre pessoas que padeceram de demência. Outras formas de retratar a doença, mostram, através de narrativas fotográficas, familiares que registam os seus parentes que, gradualmente, vão perdendo a memória. O documentário Alive Inside (2014), realizado e escrito por Michael Rossato-Bennett, retrata o tema da doença de Alzheimer com leveza e sentido de humor. Dan Cohen, fundador da organização sem fins lucrativos Music & Memory, luta contra o sistema de saúde norte-americano, demonstrando que a música é um elemento terapêutico no combate da perda de memória, ao mesmo tempo, ajuda a restaurar o sentido "de si mesmo" para os que padecem da doença. A música exerce um efeito terapêutico sem igual. Nesse sentido, alguns criativos inspiram-se no tema para desenvolver projectos.

James Leyland Kirby, o cérebro do projecto The Caretaker, tem explorado os temas da nostalgia, da memória e da melancolia. Inicialmente Kirbey inspirou-se na cena do salão assombrado de Shining (Stanley Kubrick, 1980) para arrancar com o seu projecto. Manipulava trechos de canções de salão dos anos 30. No seu trabalho, An Empty Bliss Beyond This World, segue a mente de um protagonista que se esforça para lembrar mesmo das mais pequenas partes da sua vida, utilizando sons danificados. Ao longo dos seis últimos álbuns editados, Everytime at the end of time (fases 1, 2 e 3, 2016 - 2017), Take care. It's a desert out there (2017), Everywhere at the end of the time (fases 4 e 5, 2018), Kirby insiste que as suas composições não são apenas repetições a auto-destruírem-se, elas mesmas explicam como o fazem e por quê. As misturas parecem, de facto, um regresso ao passado, uma reconstrução nostálgica que se assemelha ao acto de dar corda a uma caixa de música, capaz de nos levar à Hollywood BoulevardUm projecto que vale a pena escutar.

Texto: Priscilla Fontoura
thecaretaker.bandcamp