OS SAMURAIS DO SOM Resumo A gastronomia asiática é conhecida pelo mundo fora pela sua extrema variedade, excelente utiliz...

BLACK METAL ORIENTAL


OS SAMURAIS DO SOM

Resumo
A gastronomia asiática é conhecida pelo mundo fora pela sua extrema variedade, excelente utilização dos ingredientes e combinações maravilhosas de sabores, misturando o salgado com o doce e por vezes inserindo o picante, umas vezes intenso e outras de forma suave que ataca apenas no fim como é o caso da pimenta sichuan. Assim como na gastronomia, a Ásia surpreende igualmente na música e em particular no Black metal, seja pela utilização de instrumentos clássicos e tradicionais como pelo uso de atmosferas melancólicas e com o seu quê de romântico, o mundo do Black metal (BM) asiático existe para surpreender e encantar.


Palavras-chave: Oriente, Black metal

1 - Introdução a Deep Mountains
A melodia revestida de romantismo, espiritualidade e alguma agressividade, que longe de ser gratuita, guia-nos por territórios longínquos como só o bom Black metal atmosférico é capaz de o fazer. Deep Mountains nasceu na China em 2009 e editou 2 discos de longa duração e 2 EP’S. O primeiro intitula-se “Lake of Solace” editado em 2014 e é um disco recheado de bons temas que alternam entre passagens Folk, Blackgaze e BM atmosférico. O trabalho acústico é fenomenal e aliado a sons fluídos e subtis da natureza transporta-nos para um trilho cénico numa aldeia de uma China distante. A melancolia pode ser pesada e implacável mas carrega sempre consigo uma beleza inegável e Deep Mountains faz música que é prova disso mesmo.


2 - Transcendentalismo Atmosférico
Zuriaake é uma banda chinesa de BM atmosférico que nos transporta para uma outra dimensão de consciência, mesclando com mestria a agressividade crua do BM com passagens atmosféricas e instrumentais a piano e cordas que dão corpo a uma melancolia, uma inata a todos nós. Formaram-se na China em 1998 e até agora editaram 3 discos de longa duração e 3 EP’S.


3 - Existência Gélida
Be Persecuted é uma banda chinesa que se dedica a um BM de cariz suicida e extremamente depressivo. Os riffs são cheios de “buzz” e algo repetitivos mas com variações interessantes que fazem o ouvinte entrar numa espécie de transe introspectivo. Formaram-se na China em 2005, editaram dois discos de longa duração, “I.I” em 2007 e “End leaving” em 2009 e quatro EP’S. Para completar a atmosfera de desolação ouve-se por vezes as teclas de um piano nalgumas das composições. É uma banda difícil para tempos, alturas e fases ainda mais difíceis. Gélida e torturada mas deixando espaço para divagações da alma.


4 - Tradicional Metálico
Black Kirin é uma banda que mistura Death metal melódico, Folk tradicional chinês e Black metal de uma forma inovadora e diria mesmo, fantástica. Formaram-se em 2012 e editaram quatro discos e um EP. O mais recente “Nanking Massacre” editado em 2017 é uma obra surpreendente e fascinante na medida em que mistura a agilidade e velocidade do Death metal melódico com passagens acústicas Folk delicadas e cristalinas e a fúria destemperada do BM. São discos que potenciam a melancolia e extravasam-na em ritmos intensos mas em que ressalta sempre uma fineza e uma pureza que é sentida nas passagens de guitarra acústica. O tradicional aliado ao moderno, a intemperança aliada a uma eloquência sóbria.


5 - Explorando os Limites
Kekal é uma banda da Indonésia que editou treze discos e quatro EP’S. O seu som prima pela diversidade e pela exploração de limites dentro do metal, modernizando e mudando o seu som a partir de uma base de BM forte e bem tocada. O eclectismo que os domina é fascinante e é predominante ao longo dos discos que editaram, sendo que cada um é diferente e tem uma identidade própria. Ao longo dos vários álbuns foram-se afastando das suas raízes Black metal, criando um som diversificado e original com um cunho muito próprio, como é o caso do último disco “Deeper underground”. Uma banda com um som complexo que apesar de modernizar o seu som manteve-se sempre fiel às suas raízes BM.


6 - Melodias Celestiais
Black Reaper é uma banda chinesa de BM melódico formada em 2014 que editou o seu primeiro disco “Celestial descension” no início de 2018. O som é sólido e com a fusão perfeita de agressividade e melodia, através de bons solos e riffs que ficam no ouvido. As vocalizações são perto de perfeito e revestem os temas de um clima de alguma ameaça contida e uma beleza irreverente. A melodia como imperatriz sonora.


7 - Desolação Crua
Heartless é uma banda chinesa de BM repetitivo e cru que lida com temas como depressão e ideação suicida. As vocalizações são de certo modo, únicas e é necessário algum investimento inicial para as apreciar devidamente. O som é muito lo-fi e creio que intencional e as guitarras primam pelos riffs repetitivos que induzem algum transe ao ouvinte. Há também passagens acústicas bastante interessantes e melódicas que contribuem para o clima de desolação. Banda sonora ideal para os dias mais negros.


8 - Samurais Psicadélicos
Sigh é uma banda japonesa formada oficialmente em 1990 em Tokyo. Iniciaram-se com “Scorn Defeat” em 1993, um disco que embora seja tradicionalmente de BM já revela algumas das tendências vanguardistas e psicadélicas que exploraram mais tarde no disco “Imaginary Soniscape”.  No álbum que se seguiu a “Scorn Defeat”, intitulado “Infidel Art”, continuaram a apostar na inovação e juntaram ao som de BM, uma atmosfera um pouco mais Doom, criando riffs inesquecíveis e comportando-se como verdadeiros samurais. Já em 2001 lançaram o fantástico “Imaginary Soniscape” inovando e criando um som único que se apoia muito no psicadelismo e no metal progressivo. Uma banda genuína que nunca teve medo de inovar e de transpor as suas raízes.


9 - Melancolia Melódica
Oathean é uma banda sul-coreana formada em 1997 e que editou cinco álbuns e um EP. O primeiro álbum chamado “The eyes of Tremendous Sorrow” é composto por um BM melódico, a uma certa inclinação Death metal e a passagens de guitarra acústica que reforçam o sentido melancólico das composições. Com a progressão de álbuns que foram lançando afastaram-se das suas raízes BM e apostaram num som mais virado para o Death metal e com a inclusão fora do vulgar de vocalizações femininas.


10 - O Tradicional e o Peculiar
Magane é uma banda japonesa formada em 1999 que editou três álbuns. O primeiro álbum editado em 1999 chamado “Mortes Saltantes” é inovador e bastante à frente para a altura em que foi editado, reunindo inspirações Folk tradicionais japonesas com BM delirante e veloz em composições imprevisíveis e que insistem em surpreender. Uma banda que excela em misturar o tradicional com o moderno.


11 - Técnica sem Fronteiras
Mïsogi é uma banda japonesa de black metal formada em 2001 e que editou quatro álbuns de longa duração. O álbum de 2010 intitulado “Tofotukami Wemitamafe” mistura instrumentos tradicionais japoneses com vocalizações semi-perfeitas e coros que revestem as composições de misticismo transcendente. Uma banda progressiva e que manteve a inovação como uma das ordens do dia.


12 - Sinfonias Negras 
Sad Legend é uma banda sul-coreana formada em 1997 e que em 1998 editou o influente álbum homónimo. O som é black metal melódico bastante sólido com vocalizações competentes aliadas a uma sensibilidade de back up vocals femininos cristalinos e que oferecem à composição um cunho algo sinfónico. As composições são muito focadas no excelente trabalho de guitarra apesar de haver alguma intromissão por parte das teclas. Uma forte aposta na melodia e no sinfónico reveste a banda de uma sensibilidade e franqueza únicas.



Conclusão
Tanto seja na aposta de inovação e vanguarda como no som mais tradicional,  o metal oriental é rico em temas, atmosferas e criatividade. Muitas outras bandas lançaram o mote e continuam a carregar o estandarte da inovação ou do tradicionalismo e por vezes, uma mistura de ambos. O continente asiático revela-se um espectro original e fascinante de mosaicos sonoros.


TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE