Banda:   Paisiel Álbum:  Paisiel Género: Ethno-trance Lançamento: 26.3.2018 Editora:   Lovers & Lollypops Se f...

PAISIEL: Paisiel, 2018

Banda: Paisiel
Álbum: Paisiel
Género: Ethno-trance
Lançamento: 26.3.2018


Se frequentarmos as salas alternativas de concertos do Porto vamos conhecendo a conta-gotas os nichos que por lá param, acabando por encontrar caras que só reconhecemos se acompanharmos os trabalhos dos músicos que se vão apresentando nesses meios.

Paisiel, concerto Sonoscopia 

Uma dessas caras é João Pais Filipe. Um músico, com formação jazz, que se tem afirmado fora das convenções. Selectivo no caminho que tem traçado, a lista de bandas com quem tem colaborado revela, contudo, algum ecletismo: Sektor 304, HHY&The Macumbas, Unzen Pilot e Fail Better!, Pedra Contida, Radial Chao Opera, Two White Monsters Around a Round Table. Essas colaborações enriquecedoras, fruto de residências artísticas ou fruto de "amizades musicais", acabam por transformar esses nichos numa escola com identidade de autor, em que cada músico apesar de se associar às ideias colectivas de forma livre e compromissada tem igualmente a liberdade de enaltecer as suas individualidades. Quem tem acompanhado o trabalho de João Pais Filipe, sabe que, além de criar música e de participar em vários projectos musicais, a sua busca não tem termo. O músico tem sido incessante na procura do som que o destaca de outros músicos. Trabalha a curiosidade de uma forma prática até interpretar o que definiu na sua cabeça. A construção de címbalos e bongos torna-o escultor da sua própria obra. A viagem Satellite (A1) do álbum homónimo Paisiel, obra conjunta da dupla João Pais Filipe e  Julius Gabriel - músico alemão que desconhecíamos, mas que se revelou uma boa surpresa - introduz-se com pormenores de pratos que transitam para uma viagem sem retorno. O som de Paisiel apresenta-se consciente, acabando numa viagem que nos faz esquecer onde fomos. Talvez nunca tivéssemos saído da Terra, talvez tivéssemos saído dela para vaguear pela estratosfera. Enquanto o saxofone com efeitos exerce poder total nas mãos de Julius Gabriel, o compasso tribal de Pais Filipe não se desliga da estrutura base. Ficamos inebriados no transe. Não sabemos se os músicos andaram por vários países, ou se são apenas Marco Pólo - imaginadores de cidades invisíveis - o que se sente é que andámos por todo lado sem passaporte. 

Chegar a devaneios de sopros e a uma bateria que não se desprende, porque é cúmplice da voz do saxofone, é sinal de um amadurecimento que nem todo e qualquer músico consegue alcançar. Estamos gratos a estes nichos! 


Texto: Priscilla Fontoura