Desenho de Marcos Farrajota Desenhar, rabiscar, esboçar é terapêutico. Quantos de nós já pegámos numa caneta, deixando a nossa marca...

Bagagem de Marcos Farrajota (Chili com Carne): 5 livros, 5 discos, 5 filmes

Desenho de Marcos Farrajota

Desenhar, rabiscar, esboçar é terapêutico. Quantos de nós já pegámos numa caneta, deixando a nossa marca na toalha de papel de um restaurante ou de uma tasca qualquer? Por mais abstracta ou concreta, curta ou longa, existem histórias que desejamos contar, independentemente da técnica ou ferramenta que utilizamos. 

De ar tímido, relaxado e "na dele" está muitas vezes Marcos Farrajota a rabiscar um caderno quando o encontramos em eventos independentes, festivais de música, exposições de banda desenhada/fanzines. No festival SWR Barroselas Metalfest, podemo-lo encontrar, por exemplo, a relatar, num diário desenhado, tal qual Jack Kerouac, episódios que despertam a sua atenção.

Já lá vão mais de duas décadas desde que, ao descobrir vários criativos, decidiu fundar a associação de jovens sem fins lucrativos Chili com Carne (CCC). Fazia sentido juntar, numa estrutura legal uma plataforma que promovesse os trabalhos de criativos, não só banda desenhada e fanzines, mas também outras expressões, a produção de uma curta-metragem para cinema, peças de teatro e encontros de arte contemporânea. Dos estatutos mais claros da associação incluem-se o respeito e a cooperação livre e espontânea dos seus associados. São vários os autores membros da família CCC. A maior parte está ligada ao desenho e à banda desenhada e vem do meio das fanzines, da cultura pop e do faz-tu-mesmo. Por isso, não interessa se agradam ou desagradam, não têm que dar satisfações a ninguém porque a premissa é fazer não é agradar. Dessa lista faz parte André Coelho, Felipe Felizardo, Luana Saldanha, Rudolfo, entre muitos outros. Faz também parte Marcos Farrajota, o autor de atitude punk. Parte da sua obra está registada no formato banda desenhada, como é exemplo o livro com o mais longo título de sempre do género em português: "Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology". A música também é parte muito importante da sua vida. A identidade do autor reflecte-se na sua obra: a boémia, o punk e as subculturas underground.  

Marcos Farrajota trabalha na Bedeteca de Lisboa desde 2000 e, no que respeita a trabalhos paralelos, não se ficou apenas com a CCC. Co-criou ao lado de Pedro Brito a zine mutante "Mesinha de Cabeceira" e em 2000 criou a editora MMMNNNRRRG. Com tanta criatividade e proactividade, envolve-se frequentemente em várias actividades. Tem integrado fanzines, jornais, revistas, livros de BD, artigos sobre cultura DIY e criou a série Loverboy com desenhos de João Fazenda. Faz capas e cartazes para bandas punk, organizou vários eventos como a Feira Laica, acções de formação, colóquios, programa de rádio, mostra de originais na galeria da loja Mundo Fantasma. A colectânea "Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology" reúne bandas desenhadas autobiográficas dispersas em várias publicações, incluindo o livro do DVD The 15º Steel Warriors Rebellion Barroselas Metalfest, como também em diversas zines e revistas espalhadas pelo mundo inteiro: Cru, Prego (Brasil), Pangrama, Stripburger (Eslovénia), na Suécia e na Sérvia.

Autores honestos como Marcos Farrajota não se deixam intimidar por outras vozes. Precisamos de mais autores assim. Vejamos quais os 5 livros, 5 discos, 5 filmes que escolhe. 

5 livros:
- John Ralston Saul: "Voltaire's Bastards : The Dictatorship of Reason in the West" (1992)
- Greil Marcus: "Marcas de Baton: Uma história Secreta do Século Vinte" (2000)
- Mário Rui Pinto (ed.): "Os Cangaceiros" (2017)
- Chester Brown: "Paying for it" (2011)
- Simon Reynolds: "Retromania: Pop Culture's Addiction to its own Past" (2011)

5 discos:
- v/a: "Virus 100" (1992)
- Black Side: "Black Ja Tchga" (1997) 
- Autopsy Protocol (2002)
- Orthrelm: "Ov" (2005)
- Om Kalsoum: "Anta Fenn Wel Hob Fenn" (1960->1989)

5 filmes:
- Abbas Kiarostami: "Close-up" (1990)
- Orson Welles: "Citizen Kane" (1941)
- Oliver Stone: "Natural Born Killers" (1994) 
- Joshua Oppenheimer: "The Act of Killing" (2012)
- Luis Buñel: "O Anjo Exterminador" (1962)


TEXTO: PRISCILLA FONTOURA
ESCOLHAS: MARCOS FARRAJOTA, Autor de banda desenhada, fundador da associação "Chili com Carne", da zine "Mesinha de Cabeceira" e da editora "MMMNNNRRRG"