Desde pequena que ouço falar em Moçambique. A minha mãe nasceu na Beira em 1961 e regressou a Portugal pouco depois do 25 de Abril. Uma c...

Moçambique: Por terras de Acácias (parte 1)

Desde pequena que ouço falar em Moçambique. A minha mãe nasceu na Beira em 1961 e regressou a Portugal pouco depois do 25 de Abril. Uma cidade lindíssima que foi devastada recentemente pela tragédia do ciclone. Os cenários, fotos e histórias que me descreveu ao longo dos anos, enquanto crescia, eram as de um paraíso idílico, apesar das suas assimetrias e de se viver num período colonial. Depois do 25 de Abril e da merecida independência, a minha mãe voltou ao seu país por variadas vezes até por lá se estabelecer para trabalhar. Foi este ano que tive oportunidade de a visitar por 15 dias e conhecer finalmente o país que por tantos anos alimentara o meu imaginário.


Pescador, Vilanculos, Moçambique


Vilanculos, Moçambique


Fronteira África do Sul - Moçambique


Moçambique é um país de beleza indubitável, mas onde a pobreza, as diferenças sociais e a corrupção governamental e policial marcam o quotidiano do povo. Maputo, a capital, é uma cidade ornamentada por acácias e palmeiras. Avenidas largas e compridas entremeadas por ruas paralelas com uma assimetria cuidada e planeada. Quando se sai à rua em Maputo, podemos encontrar vendedores ambulantes que vendem os seus objectos, desde roupas dispostas em cabides, cestos em palha, colares e outros artigos de bijuteria, tabaco, carregadores e outros artigos para telemóveis, comandos de televisão e até pens de usb. A fruta é madura e deliciosa, vende-se também na rua. Entre elas, mangas, abacates e banana-maçã. Há ruas mais escondidas onde podemos ver grupos de pavões a passear e a tratar do seu dia-a-dia de pavões.

 Associação dos músicos moçambicanos, Maputo, Moçambique 

Antigo quartel da PIDE, Maputo, Moçambique  

Maputo, Moçambique

É uma cidade que surpreende a cada segundo. No primeiro dia em que cheguei, passado poucas horas fui à Associação de Músicos Moçambicanos. À entrada estava um grupo de pessoas junto de um jeep preto portentoso com um autocolante que dizia Black Metal e do qual saía do estéreo um metal extremo imiscuído com electrónica. Veria poucas horas mais tarde essas mesmas pessoas subir ao palco e improvisar uma música com raízes no screamo, o que destoou (mas harmoniosamente) das outras participações em palco que apostaram no reggae, música tradicional moçambicana e blues. As noites de jam na Associação de músicos Moçambicanos são sempre imprevisíveis, animadas, calorosas e livres. 

Associação dos músicos moçambicanos, Maputo, Moçambique


O tráfego nas ruas é também ele imprevisível, um pouco caótico mas entusiasmante. Além dos carros particulares, circulam frotas de machimbombos, Chapas (autocarros que excedem por muito a sua lotação de passageiros natural), my love’s (carrinhas de caixa aberta que também transportam passageiros) e choupelas, uma versão africana dos tuk tuk’s.



Maputo, Moçambique


Em África, pelo menos nesta parte de África, o sol espreita por volta das 5 e meia da manhã e acorda-se muito cedo porque anoitece por volta das 5 e meia da tarde. Por volta das 9 horas da manhã já a maior parte das bancas na FEIMA (Feira de artesanato, flores e gastronomia de Maputo) já estão montadas com os seus belos artefactos e roupas prontas para serem apreciadas. O colorido da FEIMA é garantido pelas bancas de roupa com os vestidos de padrões bonitos e vistosos, as túnicas e vestidos de tecidos únicos e maravilhosos de capulanas, vários artigos de bijuteria e inúmeras peças de artesanato. Máscaras decorativas, réplicas elegantes de girafas e outros animais, batiks com motivos africanos, esculturas em madeiras, peças feitas a partir da reutilização de tampas gastas de panelas e tachos garantem que não há limites para a criatividade. Faz-se o bonito e maravilhoso a partir do nada aparente.


Feira de artesanato, flores e gastronomia de Maputo, Moçambique


Feira de artesanato, flores e gastronomia de Maputo, Moçambique

Partindo do Clube de Naval em Maputo de barco e na direcção de Inhaca, conhecemos as ilhas de Santa Maria e Ilha dos Portugueses com o seu areal extenso, águas azuis e transparentes e vegetação onde o verde se mistura com o amarelo das areias. São águas quentes e onde a olho nu podemos vislumbrar cardumes de peixes. Atravessando a fronteira para a África do Sul, chega-se ao Kruger. Girafas, zebras, elefantes, impalas e muitos outros animais caminham e fazem o seu dia-a-dia em total liberdade, por vezes, atravessando as estradas onde os humanos, curiosos e fascinados, tiram fotos ou observam através de binóculos. A força da natureza é imparável em África.




























Kruger National Park, África do Sul

Texto e fotos: Cláudia Zafre, Moçambique, Abril 2019