Alguém batia suavemente à minha porta, e eu, ouvindo o doce toque e terminando de lavar os dentes, bochechava com água a pasta que me ...

Faces Alheias e outras Inquietações: A SORTE SÓ BATE UMA VEZ


Alguém batia suavemente à minha porta, e eu, ouvindo o doce toque e terminando de lavar os dentes, bochechava com água a pasta que me restava na boca. Apressava-me.

Nos segundos que me permitiram finalizar a higiene dentária e vestir uma fugaz camisa, o ruído deixou de se ouvir e desesperei-me até à porta. Olhei à volta. Não vi ninguém. Vi alguém. Uma velha mulher a quem perguntei se tinha visto quem batera à minha porta e se conseguia descrever a pessoa. Ela respondeu que era a sorte quem batia à minha porta, mas como tinha demorado demasiado tempo a vir atendê-la, ela fora bater à porta de outro.

Texto: Emanuel R. Marques
Capa/Colagem: Emanuel R. Marques