Imagem por Rafaella Spiniella  The Tropical Riders é um duo composto por Gale Fernandez e Leo Possani que se aventura por inúmero...

The Tropical Riders: As dinâmicas da dança e do peso

Imagem por Rafaella Spiniella 

The Tropical Riders é um duo composto por Gale Fernandez e Leo Possani que se aventura por inúmeros géneros musicais, conquistando e firmando o seu próprio som. Sem medos nem complexos de desbravar e explorar os limites das sonoridades ora mais soalheiras, ora mais "pesadas", The Tropical Riders é dançável mas também cerebral, trilhando temáticas pertinentes nas suas líricas. 

Editaram recentemente o EP, Desert Love que se reveste de um caos aparente, sentido de humor irreverente e a presença indelével das suas raízes de garage e stoner. A banda brasileira promete mais surpresas durante este ano de 2020. 

- The Tropical Riders é um duo, apesar de contarem com a colaboração de alguns músicos convidados. Podem falar um pouco de como se conheceram e como é que se tornaram uma banda? 
- Eu e o Leo nos conhecemos tocando em outra banda, tocámos juntos durante alguns meses, e depois do término da banda, acabámos ficando amigos. Naquele período eu comecei a compor algumas coisas mas não cheguei a avançar com nada, e o Leo também estava parado. Resolvemos tentar entrar no estúdio sem preconceitos e ver o que saía, e o resultado é a The Tropical Riders. 

- Tapes from The Deep Sea, o vosso EP de estreia, cria um equilíbrio peculiar entre o mais dançável e “pesado”. Liricamente, sentimos uma dose subtil de sentido de humor e até surrealismo com o recurso a trocadilhos como em Karma Is a Beach ou Pisco Dancer. Que temáticas é que vos interessou abordar nessas músicas e nas restantes do EP? 
- Acredito que na época do Tapes from the Deep Sea a ideia era sair da zona de conforto, provocar o ouvinte e provocar a nós mesmos. O resultado é um trabalho que abusa da ironia, acho que esse é o nosso trabalho que mais usa dessa ferramenta. A questão do dançante/pesado é algo presente em tudo que fazemos, pois é uma busca constante nossa, acreditamos que é nesse limbo, entre as duas vertentes que nosso som existe. 

Imagem por Rafaella Spiniella 

- Ainda em relação a esse EP e em particular ao tema, Monophobia que também possui um teledisco, houve um verso da letra que é o que inicia a música que é “Use me, abuse me, wear me like a horrible dress” e que apesar de aparentemente singelo, descreve muitas vezes a nossa incapacidade de nos relacionarmos com alguém, e mais profundamente, connosco mesmos. Sabemos o que Monophobia enquanto palavra quer dizer, mas o que é que mais vos interessou expressar com esse tema? 
- Ao mesmo tempo em que Monophobia é bastante direccionada para o foco de relacionamentos, mais precisamente em relacionamentos onde um lado é totalmente submisso ao outro, ela é uma música que fala sobre solidão. Ela fala sobre até que ponto você pode chegar para não estar sozinho nunca. Acredito que no momento em que vivemos com smartphones e redes sociais conectados 24 horas por dia, esse seja um medo muito mais comum do que gostamos de admitir. 

- Sentimos que vocês criaram o vosso próprio e distinto conceito musical a partir de algumas referências/bandas importantes para vocês, e apesar de se moverem por alguns géneros específicos como stoner e garage, o vosso som vai bem mais além. Quão importante é a vossa necessidade de explorar novos géneros, de medida a criar novos caminhos e aprofundar ainda mais o vosso som? 
- É uma questão vital para a existência da banda. Eu amo um número quase infinito de bandas, desde as que existiram no passado, e são influências globais, até às bandas dos nossos amigos que tocam connosco em nossos shows. Mas eu sinto uma vontade dentro de mim, quase sufocante, de buscar algo novo a todo momento. Apesar de usarmos a linguagem do rock, garage, stoner, etc., eu não considero nada disso um impeditivo, de forma que não descarto lançar um trabalho no futuro que converse com algum outro "estilo musical". A música, assim como toda a arte e a cultura, é universal e deve ser abordada dessa forma, sem limitações. 


- De todo o percurso até agora enquanto banda, que concertos ou actuações mais vos marcaram? 
- Cada apresentação nos marca de alguma forma, sempre buscamos aprender algo e melhorar para que a próxima seja melhor do que a anterior, e assim por diante. Nós tocámos duas vezes no FFFront, em São Paulo, no ano de 2019, e ambas foram maravilhosas, pois nos sentimos em casa lá. Também destacaria Abbey Roça, as duas vezes em que tocámos na Avenida Paulista e todos as oportunidades em que viajámos para fora de São Paulo. 

- Em relação ao artwork dos vossos três EP’s, sobressai um elemento lúdico quase cartoonesco de banda desenhada, esse é um imaginário que vos atrai? E se sim, existiu um conceito pré-definido para cada uma das capas? 
- Cada capa foi elaborada de acordo com o momento em que vivíamos durante os lançamentos. A capa do Tapes from the Deep Sea é mais elaborada, pois era um momento onde ainda estávamos buscando nosso próprio som e linguagem. A de Miami Sin é mais crua, pois foi assim que fizemos esse trabalho, gravando tudo em 2 dias e sendo extremamente fiéis ao nosso som. A de Desert Love é o momento em que vivemos agora, onde já sabemos o que queremos e o que nós somos, e ela reflecte essa miragem que queremos que nosso som represente, algo quase imaginário. 

- Sentimos que criaram um cocktail único e identitário no vosso som que “bebe”, obviamente de várias referências ou bandas, mas se tivessem de eleger uma banda- ainda existente ou não - com quem partilhar o palco qual seria? 
- Eu e o Leo temos referências musicais bem distintas, mas acho que algumas coisas acabam se alinhando e isso pode ser nítido no nosso som. Da minha parte, se eu pudesse escolher alguém para compartilhar o palco, seria com o Jack White, preferencialmente, com o The White Stripes

- Estão a preparar mais algum teledisco para algum tema de Desert Love
- Sim! Já temos planos adiantados de gravar algo para uma das músicas novas, mas não posso dar mais detalhes por enquanto. Sigam a gente nas redes sociais que em breve teremos (muitas) novidades.

Texto & Entrevista: Cláudia Zafre
Entrevistado: Gale Fernandez (The Tropical Riders)