Exposição Metamorfoses de Manuel João Vieira na Casa das Artes Apesar das contingências a que temos que estar sujeitos, é (e tem sido) possí...

A exposição Metamorfoses de Manuel João Vieira e a projecção de filmes para celebrar 5 anos de OPPIA são exemplos de que é possível espairecer em pandemia


Exposição Metamorfoses de Manuel João Vieira na Casa das Artes

Apesar das contingências a que temos que estar sujeitos, é (e tem sido) possível espairecer nestes dias mais frios para visitar espaços que possibilitam as organizações e colectivos a manterem as iniciativas vivas. 

Os quadros e esculturas de Manuel João Vieira puderam ser observados até hoje, dia 10 de Janeiro, na Casa das Artes, Porto. A curadoria de Oscar Faria apresentou, numa única sala, as obras que perfizeram a exposição intitulada "Metamorfoses" de Manuel João Vieira, também conhecido como vocalista dos Irmãos Catita e Ena Pá 2000. Vive e trabalha em Lisboa, integra o grupo Homeostético desde 1983, na mesma altura em que as grandes metrópoles eram vítimas da crescente edificação de prédios que serviam de habitação para o aumento populacional das grandes cidades. Do portefólio do artista plástico e músico integram exposições em espaços como Museu de Serralves, Fundação Ilídio Pinho, entre outros. No que respeita a "Metamorfoses", MJV não surpreende pelo imaginário que mostra a quem visita a sua exposição, para quem entra e já conhece de antemão o seu imaginário sabe que pode observar o encontro entre o surrealismo e o simbolismo. 


Na Casa das Artes é possível encontrar uma espécie de celebração do tempo misturado num género de ode que destaca os momentos mais importantes da História da Arte, o cruzamento do fantástico, da paisagem e do simbolismo. Em "Metamorfoses" reina a dicotomia do romântico e do bravo deste autor que foi ao seu próprio acervo escolher os trabalhos que melhor se adequavam ao tema do ciclo. Óleos sobre tela, tinta-da-china sobre papel, cerâmicas - muito inspiradas no contexto português - e esculturas que não ignoram o lado mais vívido do artista e o humor negro, que ministra a catarse necessária, são marcados por peças que desconstroem as formas que sugerem uma coisa mas que de facto podem ser outra. Também é evidente a importância que MJV dá à mulher como figura central das suas obras, tal como sublinha Carlos Ascenso André, "Ovídio é o único entre os elegíacos que insiste na ideia de que o homem tem de pensar também no prazer da mulher e não apenas no seu." - na verdade, o autor não se inspira directamente na obra do maior autor do século I, mas liga, indirectamente, os tempos às diferentes circunstâncias, como almas ou auras que se identificam num pensamento semelhante, do mesmo modo, mas em circunstâncias diferentes, o seu alteregomusical em que MJV apresenta-se qual caricatura que representa nas suas canções a figura de um machista que, de certa forma, minoriza a mulher. Nesta exposição encontram-se igualmente peças realizadas já na altura de confinamento que resultaram de uma estadia do autor no Alentejo. 


A OPPIA – oPorto Picture Academy - celebrou cinco anos de actividade com projecção de filmes


artista chinesa Lu Yanan, improviso no Guzheng

OPPIA é uma estrutura artística e de aprendizagem que empurra as fronteiras que definem as principais formas de arte", assim se auto-descrevem. No dia 30 de Dezembro do ano passado foi possível celebrar, não obstante as restrições que todos já conhecemos, o quinto aniversário da OPPIA. O convite muito aliciante teve lugar num espaço muito envolvente onde se sentiu o melhor acolhimento demarcado pela visualização de cinco filmes que abordam temáticas que persistem nos nossos dias: racismo, homofobia, isolamento social; problemáticas esboçadas no programa da extensão no âmbito do festival de curtas de Macau: Skin, de Guy Nattiv 20’00” | EUA (Ficção), Dante vs. Mohammed Ali, de Marc Wagenaar 28’00” | Países Baixos (Ficção), Histórias de Lobos, de Agnes Meng 22’27” | Portugal (Documentário), The Lighthouse, de Jay Pui Weng Lei 07’30”| Macau (Animação), Hold On, de Bart Schrijver 06’00”| Países Baixos (Ficção). Esteve também patente a exposição de fotografias de Mathilde Cudeville intitulada Rêverie: Odisseia. O evento terminou com a cereja no topo do bolo com 9 filmes do VIII Douro Filme Festival – Festival Internacional de Cinema Super 8mm, do Porto | Macau 2019, projectados em Super 8mm acompanhados musicalmente ao vivo pela artista chinesa Lu Yanan que improvisou no Guzheng, instrumento tradicional chinês. Um momento pelo qual se ansiava, principalmente numa fase em que a interacção física é quase nula.


Nota: sejamos prudentes e sábios nesta altura pandémica, mas, mesmo que inibidos de frequentar os mesmos espaços com a liberdade de outrora, continuemos a apoiar a cultura da forma que nos é possível. 

Texto por Priscilla Fontoura
Imagens da exposição "Metamorfoses" de MJV e vídeos de artista chinesa Lu Yanan no Guzheng por Emanuel R. Marques