© João Brites, gentilmente cedida pelo festival Curtas Vila do Conde Como não nos apaixonarmos pelo semblante de Buster Keaton ? Um...

B Fachada e Buster Keaton, dois homens rendidos ao amor

 © João Brites, gentilmente cedida pelo festival Curtas Vila do Conde

Como não nos apaixonarmos pelo semblante de Buster Keaton? Uma face que transparece fragilidade, preenchida por linhas elegantes e delicadas que nos remetem para um Mimo. O tempo não pára e o preto e branco dos filmes mudos situam-nos num tempo que não é o nosso. É o tempo de Buster Keaton para criar de acordo com o seu Zeitgeist. Se há condicionantes do tempo, há outras que não são. O amor, por exemplo, é um tema intemporal.

 © João Brites, gentilmente cedida pelo festival Curtas Vila do Conde

Buster Keaton conta uma história de amor no filme The Cameraman, uma comédia co-realizada por Edward Sedgwick e Buster Keaton. B Fachada entra no palco do Auditório Municipal de Vila do Conde, no contexto do festival de cinema, para musicar o filme, tal como faziam nos anos 20, do século passado com os filmes mudos. Tal como o músico refere, "Aquilo que aos olhos de hoje parece quase um paradoxo autoral era talvez parte do sucesso da indústria: os cinemas da época proporcionavam uma experiência complexa de encontro, cultura e contemplação que extravasava, aos olhos do público, a soma das partes." B Fachada parece um homem-máquina, manipula os sintetizadores e as camadas pré-gravadas, ao piano dramatiza o encontro de Buster com Sally Richards (Marceline Newlin). Parece tudo muito bem ensaiado e não houve grande espaço para falhas. B Fachada mete-se na pele de Buster. Entende as suas fragilidades, o seu lado cómico, o seu coração grande e a pouca sorte que muitas vezes impede o protagonista em ser bem sucedido.

 © João Brites, gentilmente cedida pelo festival Curtas Vila do Conde

Buster, em The Cameraman, não é um homem como os outros. É obrigado a passar por várias aventuras para conquistar o seu grande amor Sally, secretária da MGM. É um homem de estatura baixa, que tem de singrar com dificuldade na vida e que precisa de fazer um bom trabalho com a ajuda da câmara para conquistar o seu grande amor. É uma tarefa difícil e não o consegue sozinho. Ironicamente faz um amigo babuíno que limpa a sua história. É a câmara que regista os acontecimentos é também ela quem revela a verdade da história. O músico, que se encontra, ali, no palco, em alto e bom som, leva-nos a sentir o drama de Buster, interpreta ao piano os encontros do casal, em contraposição o órgão e os sintetizadores aludem à comédia e à aventura de toda a trágico-comédia quando aproveita para tocar o seu tema Pifarinho. Em toda a narrativa musicada, para quem conhece e segue a história de Bernardo, sabe que a sua identidade está latente no filme que musica.  

 © João Brites, gentilmente cedida pelo festival Curtas Vila do Conde

B Fachada, por Priscilla Fontoura

Como na maior parte das histórias de amor dos anos 20, o final é feliz e B Fachada fecha a vinheta do filme cantando "Não há nada melhor que ser um pai babado.". Tal como a simplicidade da vida, não há também nada melhor que um final feliz nas histórias de amor.


Texto: Priscilla Fontoura
Imagem: João Brites
Local: Auditório Municipal de Vila de Conde, Curtas Vila do Conde
Data: 20 de Julho, 2018
Filme-Concerto: B Fachada, The CameraMan de Edward Sedgwick e Buster Keaton