Hoje, segunda-feira, marca-se o 45º aniversário do falecimento do cantautor Nick Drake . O músico, cuja vida terminou precocemente...

45 anos desde o falecimento de Nick Drake e o legado que deixou


Hoje, segunda-feira, marca-se o 45º aniversário do falecimento do cantautor Nick Drake. O músico, cuja vida terminou precocemente, continua a ser um dos mais reverenciados da música folk. Nick Drake foi encontrado morto na sua cama, na casa dos seus pais em Far Leys, Tanworth-in-Arden.


Nick Drake, segundo consta, era uma pessoa muito reservada. Ele e sua irmã eram unha e carne e precisava de estar perto da natureza para encontrar alguma satisfação. Com apenas 26 anos, passou os últimos tempos da sua vida a lutar contra uma depressão, mas pouco tempo mais tarde o músico foi diagnosticado com esquizofrenia. Nick Drake faleceu devido a uma overdose de amitriptilina prescrita para combater a depressão. Não se sabe até hoje se o seu falecimento deveu-se a um acidente ou a uma tentativa de pôr termo à vida. Durante a sua carreira foi mal compreendido e não se sentia à vontade quando dava concertos, todavia, a grande paixão que tinha à música fê-lo registar três belos trabalhos que continuam como legado na mais preciosa história da música folk.


Five Leaves Left
Primeiro álbum de Nick Drake, lançado em 1969. O disco não é composto somente de trabalhos a solo, foi acompanhado pelo grupo britânico Fairport Convention

Bryter Layter
Gravado em 1970, foi o segundo álbum de Nick Drake, foi, também, acompanhado pelos Fairport Convention e John Cale, dos The Velvet Underground, participou nas faixas Fly e Northern Sky.

Pink Moon
Terceiro e último álbum. Gravado à meia-noite em duas sessões de duas horas em Outubro de 1971, apenas com Nick e com o seu produtor presentes. Ao contrário dos álbuns anteriores, Nick não foi acompanhado por uma banda. O álbum contém apenas voz, guitarra e piano tocados por Nick, com uma duração total de apenas 28 minutos.


Inicialmente, Pink Moon não recebeu muita atenção da crítica, mas depois da morte de Drake foi largamente aclamado, pela crítica e pelo público. Alguns consideram que este é o menos acessível dos seus álbuns, outros o têm como a sua obra prima. 

Após terminar as gravações, Nick Drake foi ao prédio da editora Island deixar as gravações em cima da mesa da recepção e foi embora sem falar com ninguém. As gravações ficaram durante todo o fim de semana e só foram ouvidas no meio da semana seguinte.

Family Tree
Em 2007 foi lançado o álbum póstumo Family Tree, uma compilação de temas gravados em casa com a colaboração da sua irmã Gabrielle Drake e a sua mãe Molly Drake. As gravações são de 1960, registadas por Nick e pelo seu pai Rodney na sua casa de família, demos gravadas por Nick em Aix-en-Provence, em França, e demos de 1968 gravadas na Universidade de Cambridge por Nick e Robert Kirby

Nick Drake lançou 3 álbuns, sem saber que deixou um influente legado musical. Embora, o músico não tenha vivido tempo suficiente para observar o resultado da semente que plantou, hoje várias pessoas viajam de vários pontos do mundo para visitar o seu túmulo. 

De forma a perpetuar a existência de Nick, a sua irmã Gabrielle compilou um diário que contém uma riqueza material e muito pessoal dos últimos 10 dias da vida do músico. Inclui excertos do diário que seu pai Rodney mantinha, enquanto ele e Molly lutavam desesperadamente para ajudar o seu filho.


Excertos do livro: Nick Drake: Remembered For A While compiled, por Gabrielle Drake que descrevem os últimos 10 dias de Drake: 

Sexta-feira, 15 de Novembro 
Depois do chá o Nick e eu tivemos uma boa conversa. Falámos de Paris e ele concordou que conseguiu resolver várias coisas lá. Ele sentiu muitas vezes a vontade de desistir e que não havia mais nada para ele, mas que, apesar de ele não compreender inteiramente esse sentimento, tem pensado mais na sua música e em fazer concertos, coisa que não gosta, mas que acaba por dar-lhe alguma espécie de emoção. 

Domingo, 16 de Novembro 
Hoje o Nick só apareceu à hora de almoço e com um ar muito cansado. Quando Molly lhe perguntou, ele disse, que tinha tido uma noite péssima por ter tomado algum Tryptizol. 

Segunda-Feira, 18 de Novembro 
Para a nossa angústia, o Nick parece estar no mesmo ponto em que estava antes da sua viagem a Paris.  Parece-nos que passou praticamente o dia inteiro apenas sentado na sala de música - muito pouca música se ouviu. 

Sábado, 23 de Novembro
Um dia bom para o Nick. Guy (amigo de infância, Guy Norton) telefonou de manhã e convidou-o para almoçar em Carpenters Hill, ele aceitou. 
Tivemos receio que ele não conseguisse ir ao almoço, mas depois de umas quantas falsas partidas, Molly sugeriu-lhe que talvez ele quisesse levar o carro dela. Isso pareceu "espevitá-lo" um pouco e foi para o seu carro e partiu. 
Às 16:45, Guy ligou a dizer que Nick e as "raparigas" estavam a caminho para o chá, e assim foi, chegaram todos às 17h. Guy disse ao telefone que Nick tinha estado bem e a falar muito - mas manteve-se silencioso connosco. 
Guy chegou com o carro por volta das 18h e levou-os todos de volta - com Nick, que tinha sido convidado para jantar. 

Domingo, 24 de Novembro 
O Nick aparentemente só voltou um pouco antes de nós na noite passada, por isso, ele chegou bastante tarde. De qualquer forma, esteve completamente silencioso durante a manhã e não respondeu quando lhe perguntámos como é que tinha sido a noite para ele. 
Mas um pouco antes da hora de almoço, ele "abriu-se" um pouco connosco e enquanto andava para trás e para a frente na sala de estar disse que Guy era uma pessoa extraordinária por conseguir meter as pessoas a fazer coisas. 
Ao final da tarde, Nick não ficou connosco mas foi para a cama cedo, depois de ter saído da porta exterior da sala de música mais do que uma ou duas vezes. 

25 Segunda-Feira, 25 de Novembro 
O pior dia das nossas vidas. 
Naw (a empregada dos Drakes) foi ver o Nick por volta das 11:45, encontrando-o estirado diagonalmente em cima da cama e chamou a Molly.
Ela entrou e viu que Nick estava morto. 
Depois de vários telefonemas desesperados, finalmente conseguimos falar com Ackroyd e pouco depois, chegou uma ambulância, que claro, chegava tarde demais. 
Ackroyd declarou Nick como morto e que assim o estaria há várias horas. 
Os contéudos de Tryptizol estavam desaparecidos. 
Assim acaba em tragédia a nossa luta de 3 anos. 


Consultor psico-terapeuta Gerald Dickens, o único especialista que parecia trabalhar melhor com Nick, mais tarde escreveu a Rodyney e Molly, que ainda procuravam respostas. 

"Eu acredito que o Nick estava a sofrer de uma doença que é chamada nos livros técnicos como esquizofrenia simples", ele disse: "Mas tenho de acrescentar que esses rótulos são insignificantes, e de certa forma, são o resultado da nossa falta de entendimento de tais doenças.

Eu tenho poucas dúvidas que vocês, enquanto pais, tentaram de todas as formas fazer com o que o Nick procurasse ajuda, e acredito também que os médicos envolvidos fizeram o seu melhor dadas as circunstâncias. 

"Infelizmente, acho que temos de aceitar que o Nick constituiu um problema insolúvel" 

Dr. Dickens acrescentou que o envolvimento de Nick com drogas "foi apenas uma manifestação da necessidade que ele tinha de compreender as mudanças que estavam a ocorrer dentro dele " e que o seu comportamento era resultado da sua doença. 

"É praticamente impossível para quem quer que seja perceber o que estava na cabeça de Nick quando tomou a overdose de comprimidos", acrescentou: "Acho que seria absurdo, conhecendo Nick, acreditar que ele se suicidou com o intuito de se vingar dos outros ou da sociedade no geral." 



* Excertos do livro: Nick Drake: Remembered For A While compiled por Gabrielle Drake.
Texto: Priscilla Fontoura
Tradução de excertos do livro, Nick Drake: Remembered For A While compiled por Gabrielle Drake: Cláudia Zafre
Vídeo: All my Trials, com Gabrielle Drake, Family Tree 
Imagens de arquivo da família Drake