Brain Damage (1988)  Frank Henenlotter é talvez mais conhecido pelos filmes Basket Case, mas esta pérola cinematográfica é igualmente potent...

Halloween: trips cinematográficas que fazem tremer ou morrer a rir


Brain Damage (1988) 
Frank Henenlotter é talvez mais conhecido pelos filmes Basket Case, mas esta pérola cinematográfica é igualmente potente no uso de efeitos especiais surrealistas, humor negro e como veículo recheado de metáforas e alegorias sobre um tema tão pesado quanto sensível como também é o abuso de drogas. 

Um filme essencial para quem quer ver o que melhor se fez na década de 80 no género de terror imbuído de comédia negra. Contém sequências lindíssimas alucinogénas. Que trip.


Don’t Look Now (1973)
A arte de causar medo ou desconforto na sétima arte vai por vezes mais longe do que assassinos com máscaras, palhaços sequiosos por sangue e sequências de tortura gráficas e extenuantes. É assim que seguimos o caminho deste clássico do desconforto e do medo, Don’t Look Now. Talvez o filme não tenha recebido tanta atenção por ter saído no mesmo ano que o igualmente clássico O Exorcista, mas não deixa de ser um filme essencial na colecção de filmes cuja atmosfera e requintes técnicos nos deixam com a impressão de termos estado envolvidos num autêntico pesadelo. 

A realização de Nicolas Roeg, a score impressionante e fantasmagórica de Pino Donnagio, as performances brilhantes de Donald Sutherland e Julie Christie, assim como o decadentismo fantasmagórico de Veneza, fazem deste filme uma pérola do cinema atmosférico e terror psicológico.


Starry Eyes (2014) 
Alterações fisionómicas e fisiológicas extremas, o chamado body horror, ocupa um lugar indestronável no cinema de terror, desde as mutações de Cronenberg até às hipérboles e impossibilidades físicas de Frank Henenlotter, há um espaço gigante para a decadência corpórea nas telas da sétima arte. 

Starry Eyes é um pesadelo tornado realidade. A decadência física progressiva da protagonista é tão real que pode causar evidentemente náuseas em quem assiste. A mensagem do filme é uma alegoria passada talvez com um martelo de ferro, mas bastante eficaz, acerca de quem tudo faz para obter sucesso, nomeadamente o arquétipo de vender literalmente a alma. 

Um filme incrivelmente hipnotizante e aterrador que lucra bastante com a performance eximia de Alex Essoe e da atmosfera onírica, misteriosa e críptica gerada pela dupla de realizadores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer.


Society (1989)
Não faz literalmente saltar da cadeira, mas explora os medos mais subconscientes da mente humana, ao mesmo tempo que se apresenta como uma sátira com momentos de fusão entre o aterrador e o nojento. Há temas pesados que são explorados em subtexto tais como canibalismo, incesto e hábitos sexuais deploráveis.

O filme realizado por Brian Yuzna é também uma poderosa alegoria sobre o confronto entre classes ricas e pobres. Um pesadelo de sátira alucinógena.



God’s Lonely Man (1996)
É impossível não traçar paralelos com Taxi Driver neste conto fílmico de caos emocional/mental e profunda solidão. Temos também reminiscências de Noites Brancas de Dostoievsky, à medida que acompanhamos a personagem principal na sua odisseia por encontrar algum resquício de pureza num mundo corrompido e soturno.

Los Angeles apresenta-se como uma cidade corrompida, um deserto emocional onde apenas as neuroses mais extremas e fetiches cruéis podem florescer.

Um filme muito pesado, mas corajoso.


Video Violence (1987)
Durante a época de ouro dos filmes Slasher, houve uma vaga de filmes de extremo baixo orçamento que invadiram alguns videoclubes (ai, saudades...).

Se Video Violence parece que foi filmado com uma câmara caseira, é porque provavelmente foi e, se a performance dos actores parece pouco convincente ou grosseira, é porque provavelmente são familiares ou amigos dos realizadores.  Não que isso seja totalmente verdade, mas é o que transparece ao assistirmos o filme. Não se trata de requintes técnicos, mas de uma persistência e resiliência em contar uma história que, apesar de absurda, tem um fio condutor.

Um filme curioso de uma década cheia de pérolas para redescobrir e descobrir. 



Blood Harvest (1987)
Talvez não haja muitas razões para querer ver este filme sem se ser fã de Tiny Tim, gostar de filmes slashers absolutamente ineptos e mais uma vez ser fã do Tiny Tim. Querer vê-lo a encarnar um palhaço que canta canções e que age de forma estranha ou absurda durante a maior parte do filme faz parte da vontade do espectador, Tiny Tim é também o herói do filme, por isso, mais uma razão para querer ver esta curiosidade fílmica. 

Apesar de alguma inépcia divertida, o realizador Bill Rebane é bem sucedido ao criar uma atmosfera ameaçadora da zona rural nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que consegue criar sequências de assassinatos interessantes ou minimamente engenhosas.

No entanto, a estrela é mesmo Tiny Tim que consegue fazer deste slasher, que poderia ser apenas mais um, o slasher, em que o Tiny Tim é uma versão extrema e surreal de bem de Tiny Tim.


Ogroff aka Mad Mutilator (1983)
Este filme foi a primeira e rara incursão da França no subgénero dos slasher. Embora grosseiro e de mau gosto divertido e surreal, é uma boa aventura pela mente em vácuo da personagem principal, o bárbaro e temível Ogroff.

Existe uma backstory para o porquê de toda a carnificina aparentemente gratuita, mas a obliteração de qualquer requinte técnico e a atmosfera amadora que é criada, fazem com que seja um exemplo encantador de baixo orçamento com usos imaginativos para um machado e inclusões inusitadas e surpreendentes de zombies e vampiros.


Frogs (1972)
Se ver um filme em que sapos assassinam pessoas sem misericórdia parece uma boa premissa para assistir a algo, Frogs talvez seja a escolha ideal.

Filmado inteiramente na Florida, Frogs tem quase mais diálogo que o Before Sunset e o After Sunset juntos, apesar de estarmos apenas interessados nos sapos homicidas, temos vislumbres de dramas familiares intensos e retratos psicológicos humanos de uma densidade peculiar. 

Apesar de tudo, o filme podia ser aprovado pela Disney porque não se vislumbra uma única gota de sangue. Uma tarde desperdiçada ou uma tarde bem passada a ver Frogs depende unicamente do ponto de vista e do interesse na premissa mencionada acima.


Samurai Cop (1991)
Surpreendentemente não há nada que atraia mais o sexo feminino do que um polícia que é também um samurai, especialmente quando ele e o seu parceiro de combate ao crime decidem lutar contra os yakuza. 

O filme está recheado de cenas icónicas e diálogos francamente hilariantes. Um clássico dos filmes de série-B e daqueles que só vendo para ficar fã. 

De frisar que existe uma sequela fantástica com nem mais nem menos do que Tommy Wiseau.


Don’t go in the Woods (1981)
O título do filme avisa claramente para não ir para a floresta, especialmente quando um maníaco anda à solta e assassina pessoas a torto e a direito com uma machete presa a um pau. A banda sonora é um dos pontos fortes neste baixo-orçamento e alterna entre baladas country de guitarra pastoral e sons de casio típicos dos anos 80, uma mistura explosiva e enigmática. 

Um filme que diverte pela sua resiliência em tentar assustar e meter medo.


Scare Package (2019)
Uma antologia que não se leva demasiado a sério, mas que é clara na sua intenção de prestar uma divertida homenagem ao filme de terror como instituição da sétima arte. 

Se se está com necessidade de revitalizar a nostalgia dos anos 80, mas com uma certa dose de contemporaneidade, Scare Package é sem dúvida umas das encomendas a receber.


Les Lèvres Rouge (1971) 
Os vampiros são entes indissociáveis e basilares do género de terror. Este filme que em inglês se traduz para Daughters of Darkness é um dos exemplos dos filmes melhor conseguidos de vampiros feitos na europa durante os anos 70, altura em que era visível o fascínio por essas criaturas sequiosas por sangue. 

Existe um erotismo sub-reptício que actua fortemente ao longo do filme e com uma performance impar de Delphine Seyrig que personifica a condessa Bathory num registo magnetizante e assustador. 

Harry Kumel conseguiu o que especialistas do género como Jean Rollin e Jesus Franco conseguiram em alguma da sua cinematografia.

Texto: Cláudia Zafre
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