Eu, o Jorge Lima Barreto, e o trompetista Jac Berrocal, íamos gravar um cd para a editora Numérica, do nosso amigo Fernando Rocha; chegámos ...

Crónicas do Rua: gravação do cd para a editora Numérica por Vítor Rua, Jorge Lima Barreto e o trompetista Jac Berrocal


Eu, o Jorge Lima Barreto, e o trompetista Jac Berrocal, íamos gravar um cd para a editora Numérica, do nosso amigo Fernando Rocha; chegámos pela manhã, montámos os instrumentos; o Jorge no piano de cauda; eu, em duas guitarras acústicas (uma de 6 e outra de 12 cordas); também guitarra eléctrica processada e electrónica; e o Jac Berrocal tocava trompete; depois de tudo montado, o Fernando Rocha decidiu isolar o som do trompete do Jac, metendo uma espécie de biombo a separar-nos – a mim e ao Jorge –, dele; começou-se a gravar, depois de um opíparo almoço regado, no final, por uma erva de excelente gabarito; as gravações decorriam maravilhosamente; pausa para jantar, e o Jorge, que tinha visto uma bateria no estúdio, resolve dizer que ainda se vai fazer mais um tema em que ele tocaria bateria; o Jac ouve aquilo e diz: "Então faz um swing", e explica com a boca o tempo; o Jorge nem lhe dá atenção; chegamos ao estúdio já estourados; eu e o Jorge de um lado, e o Jac do outro lado, do tal biombo (e portanto, não nos via); mal o técnico diz: "Está a gravar", o Jorge dá uma pancada tal num prato, que este tomba com o tripé; eu começo a bater com uma guitarra acústica na outra, com a distorção ligada no máximo; e o Jac – que não via nada do que estávamos a fazer –, também fazia frases típicas do free jazz; a determinada altura, o Jorge e eu já estávamos numa loucura total, eu tinha o cabelo todo electrizado no ar, e o Jorge a tocar e a ir deitando partes da bateria ao chão e tripés a cairem; de repente, eu bato de costas no biombo que nos separava do Jac, e este, que costuma tocar de olhos fechados, de repente sente algo, e quando abre os olhos, vê o biombo a cair sobre ele, e eu com o cabelo tipo Dona Summer, a bater com as guitarras, bem à frente dos olhos dele; aí, ele manda um grito enorme de susto; depois vê o que se estava a passar, e tenta disfarçar, dando outros gritos de seguida, para que parecesse na gravação, que aqueles gritos eram de propósito; esta faixa deste cd que se chama "À Lagardère", ficou com o nome de : "Berro & Cal"...

Texto e Imagem: Vítor Rua