Palavras-chave: som, plantas, botânica, música Introdução Somos estimulados pelos sentidos. A procura de relaxamento através do som tem sido...

A música das plantas: Plantasia e a sua descendência

Palavras-chave: som, plantas, botânica, música

Introdução
Somos estimulados pelos sentidos. A procura de relaxamento através do som tem sido elemento chave para busca de vídeos ASMR "Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano" no YouTube. Oliver Sacks explicou como funciona o nosso cérebro quando estimulado pela música. Tarefas como escovar o cabelo, servir chá, acariciar diferentes objectos produzem uma espécie de massagem cerebral ou arrepio que são como terapias de relaxamento para uma noite de sono tranquilo, enquanto se combate a ansiedade e a insónia quando conduzidos pelos vídeos ASMR. Embora existam estudos científicos que comprovam os benefícios que a música provoca no bom crescimento das plantas, a sua proliferação ainda é escassa e um assunto controverso dentro da comunidade académica e científica. 

Plantasia e a sua descendência
Quem diria que um álbum lançado em 1976, distribuído juntamente com colchões, tornar-se-ia, hoje, um disco de culto? Graças ao algoritmo do YouTube, Plantasia, composto pelo pioneiro da electrónica, a sintetizador Moog, por Mort Garson, tornou-se um sucesso para os melómanos da electrónica. A capa ilustra um casal a abraçar uma planta de casa e com ela vem um livreto de horticultura gratuito. O público-alvo deste disco são as plantas que com esta musicoterapia cresceriam com felicidade e saúde.

Arte e botânica
A arte (e quem com ela se relacionou) sempre teve uma relação próxima com as plantas. Os artistas plásticos extraíam das folhas de plantas maceradas, da seiva pegajosa das árvores, da urina, do barro, minerais e até das fezes e sangue humanos e de animais, as texturas para a criação de tintas para pintarem murais e templos, como as civilizações egípcia e chinesa tidas como pioneiras na arte. No presente, existem revivalistas que pretendem desenvolver pigmentos recorrendo ao "alimento" que a natureza dá. Do mesmo modo, a alquimia botânica procura através dos benefícios da extração das plantas o elixir para a cura de várias mazelas. 

A reconexão que a Humanidade tem sentido em relação à natureza tem sido mais urgente do que nunca, pensar e construir cidades mais verdes é a luta feita por novas gerações, uma vez que a partir da Revolução Industrial os espaços verdes e selvagens escassearam por causa das grandes indústrias que causaram o êxodo rural entre as populações, ignorando - ou colocando o materialismo e a sobrevivência à frente - o que acabaria por ser prejudicial para a saúde ambiental e física das pessoas. 


As plantas crescem com música
O efeito da música no crescimento das plantas tem mostrado, pelos estudos já realizados, que é benéfico para o crescimento vegetal, ainda que alguma parte científica resista em relação a um tema que ainda carece de mais investigação. Segundo o artigo científico que foi realizado para procurar saber se a música pode influenciar as plantas, é referido que as mesmas são influenciadas por diversos factores ambientais, mostrando-se sensíveis a estímulos intensos e até a distúrbios muito subtis. "Perturbações mecânicas como o som, um tipo de onda mecânica longitudinal, podem afectar a vida das plantas, incluindo o seu crescimento e desenvolvimento." (YI et al., 2003; CHELAB et al., 2009). No sentido de procurar saber a resposta e reacção das plantas ao som, foi realizado, no âmbito do estudo já citado, uma experiência científica em que dez plantas de Solanum lycopersicum foram germinadas em vasos de três litros e mantidas em casa de vegetação. Foram divididas em dois grupos, com cinco plantas cada: tratamento controle (sem música) e tratamento som (exposto à música).

A música aplicada ao tratamento do som foi “Son of Mr.Green Genes” de Frank Zappa. Durante a experiência, as plantas dos dois tratamentos permaneceram sob condições semi-controladas de casa de vegetação durante todo o dia, excepto numa parte da manhã, quando as plantas eram submetidas aos respectivos tratamentos, em duas salas da UCP afastadas entre si. Foram também realizadas medições: altura, número de folhas, nós, botões florais, área foliar, volume da raiz, matéria seca e conteúdo de pigmentos fotossintéticos. Concluiu-se que o estímulo sonoro promoveu alterações nas variáveis de crescimento avaliadas, indicando que a música pode afectar o desenvolvimento desses organismos. 

O som pode influenciar as plantas, contudo sabe-se muito pouco sobre essa interacção dentro do meio científico. A falta de pesquisas pode ser decorrente do conservadorismo científico perante este tema. Os estudos sobre os efeitos de vibrações sonoras em plantas têm vindo a crescer nos últimos anos, especialmente na China, e apresenta uma ampla aplicabilidade tanto na agronomia quanto em pesquisas ecológicas.

Plantas e Música
O livro de 1973, The Secret Life of Plants, de Peter Tompkins e Christopher Bird, compartilha muitas anedotas (algumas mais verossímeis do que outras) sobre a fascinante relação entre a música e as plantas. Aparentemente, os sons certos podem produzir melhorias substanciais no crescimento, e os sons "errados" podem fazer exactamente o oposto. Certamente, as plantas estão mais cientes do meio envolvente do que pensamos, possivelmente muito mais do que nós.

Dorothy Retallack fez muitas experiências numa estufa com diferentes géneros musicais e vegetais. A residente no Colorado descobriu que, depois de 2 semanas, as plantas inclinavam-se fisicamente de 15 a 20 graus em direcção a um rádio que tocava música clássica e jazz, enquanto lutavam para se afastar do rock porque adoeciam - contrariando o efeito positivo descrito ao som de Son Of Mr. Green Genes de Frank Zappa. Os malmequeres que “ouviam” música rock morreram em 2 semanas, enquanto aqueles na sala de música clássica a 2 metros de distância floresciam. Mas, de longe, as reacções positivas mais perceptíveis foram à música clássica indiana para plantas.

Há quem também tente "materializar" o som das plantas ligando-as a sensores e cujo sinal é convertido por um aparelho que produz o som das plantasJoe Patitucci e Jon Shapiro tentam estudar e desenvolver técnicas para a conversão desse som, a dupla afirma que quando um humano está perto de uma planta essa energia influencia o som da planta.

Som feito com plantas
Artistas sónicos, tal como Mileece, começou a extrair o som das plantas. Essa extracção é feita a partir da instalação de electrodos nas folhas, uma vez que são condutores para conectarem o som da planta para o amplificador, esse som é convertido para o código binário e  transferido para um software que interpreta essa informação transformando-a em som. Mileece, como embaixadora das energias renováveis, tem como objectivo, por trás da sua música vegetal, aprimorar o nosso relacionamento com a natureza. E se a música das plantas pode ter uma articulação estética agradável, então podemos importar-nos mais com o nosso meio ambiente.

Conclusão
Ainda que existam cientistas e biólogos renitentes em relação aos benefícios que o som possa ter no crescimento das plantas, há estudos que indicam que certos géneros musicais são positivos para o seu crescimento. Convém termos consciência e respeitarmos todo o ambiente que nos circunda porque a natureza, tal como nós, precisa de estar de boa saúde para resistir e sobreviver.

Estamos na Primavera, na época do renascimento, de novas culturas e de um novo ciclo. Saibamos contemplar a beleza que nos rodeia e entender que em toda a natureza existe musicalidade e som. Se a devemos explorar para método de criação, essa já é outra questão... Observem os dípticos de imagens de plantas registadas pelo Rui. 



Texto: Priscilla Fontoura
Imagens: Rui Mota Pinto

Fontes: