Em 1980, chegaram dois amigos brasileiros do Alexandre e encontramo-nos antes de um concerto dos GNR no Algarve; eles perguntaram-nos: ...

Crónicas do Rua: A já mítica Estória do Benzovac


Em 1980, chegaram dois amigos brasileiros do Alexandre e encontramo-nos antes de um concerto dos GNR no Algarve; eles perguntaram-nos: "Aqui há Popper´s?"... e nós não faziamos ideia do que falavam; e eles disseram: "Pode ser substituído por aquele líquido que se usa para tirar nódoas; aí eu sugiro: "Vamos à drogaria do Sr. Manuel"... e fomos.

Chegados lá perguntei: "Ó Sr. Manuel, como se chama aquele líquido para tirar nódoas?"... e ele: "Depende... há a benzina, o benzovac e a droximina”; olhamos para os amigos brasileiros e eles nada... Então eu disse: "Sabe Sr. Manuel, estes dois amigos são brasileiros e não sabem o nome do produto em português... Mas reconhecem pelo cheiro"... e o Sr. Manuel: "Reconhecem pelo cheiro?... Nem eu reconheço pelo cheiro!"; e eu disse: "Mas eles sim, quer ver?"... e estavam três bidões, cada um com uma coisa diferente; um deles abre o primeiro bidão e começa a snifar "SNIFFFFFFFF" e diz: "Não é este!"... abre outro, sob o olhar espantado do Sr. Manuel, e snifa "SNIFFFFF" e diz: "É esteeeeeeeeeeee!"... e o Sr. Manuel pega num frasco dos de álcool e pergunta: "Querem levar quanto?"... E nós olhamos para aquele frasco pequenino e para o bidão e eu disse: "Levamos o bidão"... Aí, o Sr. Manuel olha para mim e pergunta: "Que nódoa é que vocês querem tirar?"... 

Metemos o bidão na mala do carro, fomos todos para a Taberna 2000 no Foco/ Porto e dissemos a todos que tínhamos uma droga fantástica; era tudo a sair do clube e a ir ao nosso carro e a meterem lenços no bidão e tudo a snifar e a cair na relva; passamos assim a noite toda; às 06:00 fomos pôr os instrumentos na carrinha e partimos para o Algarve – em directa e todos f# de benzovac; o meu corpo era todo ele benzina: cheirava, sabia e parecia que o que corria no meu sangue era… benzina ! Mal partimos começámos a sentir-nos horrivelmente e a pensar que íamos morrer todos e que nunca mais me drogaria na vida se me salvasse daquela; até que começámos a vomitar, e riamo-nos, porque eu vomitei na janela da frente ao mesmo tempo que o Megre vomitava na de trás e apanhou com o meu vómito; ao chegar a Coimbra tive uma ideia: beber leite !!!! estávamos intoxicados e bebendo leite passaria; fomos a uma tasca e devemos ter pedido uns 200 copos de leite para os quatro; aí, sentimo-nos cada vez melhor; tinha sido uma boa ideia que, provavelmente, nos salvou a vida: Chegados ao concerto, que ia decorrer numa praça de touros – e o camarim era na relva ao lado da praça – fui à carrinha e pedi ao nosso roadie para me preparar uma linha de coca para antes do concerto; antes do concerto lá fui: "Fizeste a linha?"...e ele: "Está aí em cima do tablier"... eu vou e snifo, e diz o gajo: "ISSO ERA PARA NÓS OS CINCO! A TUA ERA SÓ A DE BAIXO!"... já era tarde, já nem o ouvia, era só ecos! eles anunciam: "E agora, os GNR!!!" e o Tóli começa a tocar e ninguém sabia onde eu estava; até que olham e topam um gajo a subir e a descer as escadas da praça... era eu, a gastar energias! Depois, dei o concerto a speedar e quando acabou e ia a mijar, pareceu-me ter mijado verde fluorescente; ao chegar a casa fui ao médico de família; ele pergunta: "Então, que o traz aqui?", e eu nada; e ele: "Tudo bem com os intestinos?" e eu dizia que sim; e ele "E o estômago?" e eu: “Ok”; e ele: "Dores de cabeça?" e eu "Não!"; e ele: "Falta de apetite?" e eu "Não!"; até que olha para mim e pergunta: "Então, que se passa?"; e eu digo: "Sr. Doutor: eu urinei verde fluorescente!"; o gajo olha para mim, tira os óculos e diz-me: "Ouça, amigo, isso não existe!"... e já nem me deixou sair da clínica: fiquei lá internado uma semana, a fazer dieta...

Texto e Imagem: Vítor Rua