Fomos dar um concerto no Anfiteatro da Cidade Olímpica de Moscovo, com mais dois grupos: um belga e outro alemão de Leste; o concerto ia ser...

Crónicas do Rua: concerto no Anfiteatro da Cidade Olímpica de Moscovo


Fomos dar um concerto no Anfiteatro da Cidade Olímpica de Moscovo, com mais dois grupos: um belga e outro alemão de Leste; o concerto ia ser transmitido em directo para toda a URSS e era numa sala do género da Gulbenkian mas com o dobro do tamanho; depois do nosso check sound surge uma intérprete e o director de palco, que parecia o Lenine, vira-se para a tradutora e diz qualquer coisa em russo que ela traduz: "O director pergunta se podem emprestar os vossos sintetizadores ao grupo belga"; e o Jorge diz-lhe: "É impossível, porque os nossos sintetizadores estão programados por nós"; e ela transmite isso ao director; o director volta a dizer algo em russo, e ela insiste se podemos emprestar os nossos sintetizadores; e o Jorge volta a responder a mesma coisa; aí, o director diz qualquer coisa em tom duro e breve, e ela traduz: "Então, o director diz que não vos empresta o piano"; aí, o Jorge levanta-se da cadeira e desloca-se até ao director e diz-lhe em português: "Ouve lá, ó palhaço, eu sou Doutor, e sou músico, há mais de 20 anos, e se voltas a dizer isso, fodo-te todo, e parto-te as trombas, estás a ouvir, meu grande filho-da-puta?"; a tradutora ficou sem saber o que fazer e disse qualquer coisa baixinho, em tom calmo; o director, olhou para nós, disse apenas duas palavras e retirou-se; e ela diz-nos: "Podem usar o piano"...

Texto e Imagem: Vítor Rua