Hermeto Pascoal veio trazer a Ílhavo, a convite do Festim, o samba, o forró e toda a fusão que só um mestre do jazz vanguardista consegue. A...

Atenção que Hermeto Pascoal & Grupo tocaram o Brasil no Festim

Hermeto Pascoal veio trazer a Ílhavo, a convite do Festim, o samba, o forró e toda a fusão que só um mestre do jazz vanguardista consegue. Após 13 anos, regressa ao festival acompanhado pelo Grupo. Hermeto merece o nosso respeito, pois tem vindo a transformar o conceito da música improvisada, como também tem vindo a desconstruir os cânones mais tradicionais do jazz, dirigindo o género para outra ramificação mais experimental. Compositor compulsivo com mais de 10 mil músicas escritas, apelidado (carinhosamente) de "Bruxo dos Sons", toca como se brincasse com a sonoridade de cada um dos instrumentos que domina: teclado, piano, flauta, baixo, melódica, sanfona, chaleira, berrante, etc. 


Hermeto dá espaço ao Grupo formado por Itiberê Zwarg (baixo), Jota P. (saxofones e flautas), Fábio Pascoal (percussão), André Marques (piano) e Ajurinã Zwarg (bateria), que vai ocupando a maior parte do concerto com ritmos e tempos que parecem não fazer parte do mesmo tema, mas, durante o desenrolar de cada um, apercebemo-nos que afinal situa-se no mesmo lugar, só deu a volta ao Brasil em muitos minutos para regressar à origem. O multi-instrumentista e autodidata já sente o peso da idade. Enquanto, sentado, observa os seus colegas em palco, levanta-se pontualmente para comunicar com eles, ora toca teclas, ora brinca aos sopros. Mas é o nome de Hermeto que leva os seus colegas além fronteiras, a "Nave Mãe" tem vindo a impulsionar a carreira de instrumentistas talentosos da música brasileira. O espírito livre é considerado um dos maiores génios do Brasil em atividade na música mundial. Nascido em Alagoas em 1936, hoje contempla 86 anos. Não se esquece das suas raízes, nem se auto-limita quando o assunto passa por experimentar novos sons. Desde tenra idade que o músico se sentiu fascinado em experimentar os sons da natureza, a partir de um cano de mamona de jerimum fazia um pífano. Gostava de conversar com os pássaros por tempo indeterminado e de ir para a lagoa, onde passava horas a tocar com a água. As abelhas também foram, com ele, outro Grupo com quem veio a compor. Foi a experimentar o acordeão de 8 baixos do seu pai que ganhou o gosto pelo instrumento e passou a tocar com o seu irmão em forrós e festas de casamento, revezando-se no acordeão e no pandeiro com ele.


Ver ao vivo Hermeto Pascoal e o Grupo é, sem sombra de dúvida, uma experiência sensorial indescritível, inesquecível e sem contra-indicações.

Tive o prazer de o ver minutos antes de chegar ao palco, a preparar-se para entrar no carro que o levaria até ao recinto do concerto, o Jardim Henriqueta Maia. Cabelos longos brancos, olhos escondidos por detrás de óculos com lentes espessas, corpo avantajado, chapéu à Indiana Jones com temas pintados e camisa havaiana são elementos icónicos que tornam Hermeto a figura singular que é: o expoente máximo do jazz experimental brasileiro, ao lado de Naná Vasconcelos. Hermeto consegue tanto falar aos elitistas do jazz, como aos mais leigos. Certamente, todos saíram deste concerto com um sorriso nos lábios pela boa disposição que Hermeto e o seu Grupo causaram na audiência.

Premiado no Brasil e no exterior, ganhou prémios como o Ary Barroso (1996), o APCA (1973), o Grammy Latino (2019), entre outros. Produziu dezenas de trabalhos ao lado de Airto Moreira e Flora Purim, além de nomes como Sivuca, Edu Lobo e até Miles Davis.


Texto: Priscilla Fontoura